terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Ordem do Discurso

FOUCAULT, Michel - Loyola: São Paulo, 2002

Na obra A Ordem do Discurso, Foucault lembra que o discurso é material e por ser construído, tem perigos e poderes.  Como ele pode ser utilizado de maneira violenta, colocando significações prévias, o autor prevê modos de organizar este discurso através de classificações e delimitações, que são:
 procedimentos internos, procedimentos externos  e sistema de restrição.

Os procedimentos internos são três: comentário, o autor e a disciplina. O comentário é aquele presente nos textos e conjuntos ritualizados de discursos que se narram. Como tal  pode já ter sido dito, permanece dito ou ainda estão por se dizer. Neste aspecto, Foucault reconhece os comentários como parte do sistema de cultura,  como os texto religiosos, científicos e literários. O autor existe como princípio do agrupamento do discurso, e portanto não é o autor de uma matéria e sim o local onde pode se originar os diversos discursos. A disciplina é vista como um conjunto de métodos, que tem uma série de proposições verdeiras e falsas.


Os procedimentos externos são os processos de exclusão: Interdição, rejeição e rejeição do discurso, estabelecidos respectivamente pela palavra proibida, segregação da loucura e a vontade de verdade. Para Foucault, o procedimento mais utilizado e familiar é o da interdição de discurso, porque é onde existe as figuras do tabu do objeto, ritual da circunstância e o direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala . Nesta perspectiva, não são todos que podem falar (direito privilegiado); nem tudo pode ser falado (tabu do objeto), que não se pode falar tudo em qualquer circunstância (ritual da circunstância):  “Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um não pode falar de qualquer coisa” (FOUCAULT,  2002, p.9).

A segregação da loucura é realizada na proibição do discurso do louco, neste contexto há uma rejeição do discurso entre a razão e a loucura, ou seja, o que não pode ser explicado racionalmente é separado.  A vontade da verdade é um dodo do discurso justificar certas práticas.

Os sistemas de restrição são o terceiro grupo de procedimentos que permitem o controle do discurso : os indivíduos devem seguir um certo número de regras para ter acesso a determinados discursos. Um exemplo ciado seria a qualificação que o indivíduo deve possuir antes de fazer seu discurso, é necessário todo um conjunto de signos que possa acompanhar este discurso.  Assim para o controle funcionar é necessário uma “Sociedade do Discurso” , cuja função é conservar ou produzir discursos e distribuí-los somente segundo regras estritas e definidas.

Mas nesta Ordem do Discurso, há maneiras de resistir ao controle, como por exemplo, dando acesso  a todo e qualquer tipo de informação, como no caso da educação por exemplo. Na educação, na leitura, na busca do conhecimento há maneiras de difundir um conhecimento e vários discursos de indivíduos.


Foucault então elabora uma proposta para fugir dos jogos de limitações e exclusões, através da inversão, descontinuidade, especificidade  e exterioridade. No qual o autor acredita que é preciso tratar o discurso como rarefeito, descontínuo, como um ato de violência às coisas e por isto deve-se evitar as significações prévias , usando o próprio discurso na sua aparição.

Tatiana Cioni Couto


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Fichamento e resumo-Ódio à democracia, Jacques Rancière.


RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. Tradução Maria Echalar.São Paulo:Boitempo, 2014

INTRODUÇÃO
• Democracia: reino dos desejos ilimitados dos indivíduos da sociedade de massa moderna.p.8
• Leis e instituições da democracia formal:são as aparências por trás das quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da classe burguesa.p.9
• Democracia real:democracia em que a liberdade e a igualdade não seriam mais representadas nas instituições da lei e do Estado, mas seriam encarnadas nas próprias formas da vida material e da experiência sensível (diálogo com Maffesoli).p.9
• Novo sentimento antidemocrático: traz uma versão mais perturbadora da fórmula.O governo democrático é mau quando se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam respeitadas.p.10
• Ódio à democracia: pode ser resumido então em uma tese simples: só existe uma democracia boa, a que reprime a catástrofe da civilização democrática.p.11

DA DEMOCRACIA VITORIOSA À DEMOCRACIA CRIMINOSA

Rancière busca desconstruir o lugar da democracia como a utopia da realização da liberdade e da vontade coletiva.Em contrário, o autor francês compreende que leis e instituições da democracia formal "são as aparências por trás das quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da classe burguesa” (2014, p.9).A democracia real seria então uma forma de controle e dominação,se advinda do Estado,e só poderia ser identificada ,não pela forma da lei, mas nas formas da vida sensível, no que se compreende uma aproximação com a ideia da transfiguração do político de Michel Maffesoli.Como conceito central, Rancière define que o ódio à democracia se revela na ideia de que "só existe uma democracia boa, a que reprime a catástrofe da civilização democrática” (idem,ibidem.p.11)
Há, de fato, uma transformação do ideário democrático moderno, que Rancière compreende como totalitário, onde os indivíduos isolados têm prevalência às crenças coletivas, para a crise do governo democrático e das instituições que garantem que a presente democracia persista.O autor não compreende no entanto que houve uma total revolução no cerne do Estado democrático, mas que, por definição este era formada de direitos humanos ilusórios e de um Estado de exceção como condição fundamental.Nesse viés, as liberdades são substituídas pela burguesia pela única e possível liberdade do comércio.Ora,se as práticas sociais se transformam, no tempo contemporâneo, abarcando a crise de representação política sobre a qual falaram,a seu modo, Sodré, Paiva e Maffesoli, compreende-se que a escola, como formadora e reprodutora dos valores da sociedade dominante, também fracassa.
• Democracia: é a desordem das paixões ávidas de satisfação.p.14
Como forma de vida,política e social,é o reino do excesso.p.17
• Estado:tem o poder de controlar a desordem democrática.p.14
• Bom governo democrático: aquele capaz de controlar um mal que se chama simplesmente vida democrática.p.16
• Crise do governo democrático:o que provoca a crise do governo democrático é a intensidade da vida democrática.16
• Boa democracia: forma de governo e de vida social capaz de controlar o duplo excesso de atividade coletiva ou de retratação individual inerente à vida democrática.p.17
• Democracia moderna: significa a destruição do limite político pela lei de eliminação própria da sociedade moderna.p.19
• Judeus e democracia:estão em oposição radical.Essa tese marca a reviravolta daquilo que, na época da guerra dos seis dias ou do Sinai,ainda estruturava a percepção dominante da democracia.p.21
• Contrário da democracia:totalitarismo:
• Estados totalitários:
1. aqueles que, em nome da força da coletividade, negavam ao mesmo tempo os direitos dos indivíduos e as formas constitucionais da expressão coletiva, eleições livres,liberdade de expressão e associação.p.21
2. Suprimia a dualidade do Estado e da sociedade,estendendo sua esfera de exercício à totalidade da vida de uma coletividade.p.21
• Principio da chamada democracia: torna-se o princípio abrangente da modernidade tomada como uma totalidade histórica e mundial,a qual se opõe apenas o nome judeu como princípio da tradição humana preservada.p.22
• Terror revolucionário: necessidade inerente à própria essência da revolução democrática.p.24
• Democracia parlamentar e liberal:fundamentada na restrição do Estado e na defesa das liberdades individuais e democracia racial e igualitária,que sacrifica os direitos dos indivíduos à religião do coletivo e à fúria cega das multidões.p.24
• Revolução:consequência do pensamento das luzes e de seu primeiro,a doutrina protestante, que eleva o julgamento dos indivíduos isolados em vez das estruturas e das crenças coletivas.p.25
• Direitos humanos (Hannah Harendt): uma ilusão,porque são os direitos do homem nu,desprovido de direitos.p.27 • Estado de exceção (Agamben):conteúdo real da nossa democracia.p.27
• Direitos do homem: direitos dos indivíduos egoístas da sociedade burguesa.p.28
• Generalização das relações mercantis: realização da exigência febril de igualdade que atormenta os indivíduos democráticos e arruína a busca do bem comum encarnada no Estado.p.28
• Democracia providencial:
1. Relações contratuais entre indivíduos iguais.p.28
2. Banalização das praticas profissionais.p.29
• Profissões que instituíam uma forma aos valores coletivos:são afetadas pelo esgotamento da transcendência coletiva.p.29
• Burguesia:substituiu as numerosas liberdades,conquistadas duramente,por uma única liberdade sem escrúpulos, a do comércio.p.30
• Igualdade dos direitos humanos:traduz a igualdade da relação de exploração que é o ideal consumado dos sonhos do homem democrático.p.31
• Discussão sobre a escola: fracasso da instituição escolar em dar chances iguais às crianças oriundas das classes mais modestas.p.36
• Transmissão escolar do saber: evidenciação das desigualdades sociais (tese sociológica).p.37
Tese republicana: aproximar a escola da sociedade era torna-la mais homogênea com a desigualdade social.p.37
• Escola:trabalhava pela igualdade na estrita medida em que,abrigada pelos muros que a separavam da sociedade,podia se dedicar à tarefa que lhe era própria:distribuir igualmente a todos,sem considerar origem ou destinação social,o universal dos saberes.p.37
• Discurso intelectual dominante:une-se ao pensamento das elites censitárias e cultas do sec. XIX:a individualidade é uma coisa boa para as elites,torna-se um desastre para a civilização se a ela todos tem acesso.p.42
• República:não é originalmente o nome do governo da lei, do povo ou de seus representantes. A República é,desde Platão,o nome do governo que garante a reprodução do rebanho humano,protegendo-o contra o inchaço de seus apetites por bens individuais ou poder coletivo.p.44
• Aflição dos indivíduos democráticos: é a dos homens que perderam a medida pela qual um pode se conciliar com o múltiplo e uns podem se unir com todos.p.45

A POLÍTICA OU O PASTOR PERDIDO

Para o exercício da democracia, torna-se necessária a figura dos representantes da população que ocuparão seus lugares privilegiados na medida em que a democracia garantir a ordem da sociedade e do governo. A governabilidade,que Maquiavel definiria como o virtu e as condições para exercício do poder, Rancière define como a ausência de qualquer título para que seja exercido o poder, segundo a ordem natural das coisas (RANCIÈRE,2014).Deste modo,a igualdade é compreendida de forma muito mais natural pelo superior, ou governante,do que pelo governado.a democracia se baseia assim em um regime de desigualdade pautado pela ausência de motivos ou títulos para a escolha de quem governará. O fundamento do poder está assim definido "como uma total ausência de fundamento." (RANCIÈRE,2014,p.66)

• Crime democrático: crime político,isto é,simplesmente a organização de uma comunidade humana sem vinculo com o Deus pai.p.47
• Lei democrática (Platão): apenas o bel prazer do povo,a expressão da liberdade de indivíduos que tem como única lei as variações de seu humor e de seu prazer, indiferentes a qualquer ordem coletiva.p.50
• Inversão entre governante e governado: a democracia garante que essa relação seja homogênea com as outras.p.53
Garante a continuidade entre a ordem da sociedade e do governo,porque garante sobretudo a continuidade entre a ordem da convenção humana e a da natureza.p.53
Arkhé: significa em grego tanto começo quanto comando.p.53
• Democracia:quer dizer em primeiro lugar,um governo anárquico,fundamentado em nada mais do que na ausência de qualquer título para governar.p.57
• Representação do povo soberano por seus eleitos:simbiose entre a elite dos eleitos do povo e a elite daqueles que nossas escolas formaram no conhecimento do funcionamento das sociedades.p.57
• Governo justo:só existe com o que contradiz a identificação do exercício do governo com o exercício de um poder desejado e conquistado.p.59
• Título (dos governantes): produz um efeito retroativo sobre o outros,uma dúvida sobre o tipo de legitimidade que eles estabelecem.p.60
• Ordem natural das coisas:os homens são governados por aqueles que possuem os títulos para governá-los.p.62
• Poder dos melhores: só pode se legitimar pelo poder dos iguais.p.64
• Igualdade:não é uma ficção: todo superior a sente como a mais banal das realidades.p.64
• Sociedade não igualitária: só pode funcionar graças a uma multitude de relações igualitárias.p.65
• Política:para que haja política é preciso que haja um título de exceção, que se acrescente aqueles pelos quais as sociedades [...] são normalmente regidas.p.65
Fundamento do poder de governar em sua ausência de fundamento.p.66

DEMOCRACIA, REPÚBLICA, REPRESENTAÇÃO

Mergulhando no conceito de República, Rancière vai reafirmar em seu discurso a ideia de que não há objetivo igualitário na sociedade democrática. Ao contrario,esta é "pintura fantasiosa destinada a sustentar tal princípio do bom governo.as sociedades, tanto no presente quanto no passado, são organizadas pelo jogo das oligarquias (RANCIÈRE,2014.p.68) Assim sendo, vai além do que Sodré, Paiva e Maffesoli definem como crise da representação.Para Rancière, a representação nunca foi uma forma democrática,mas em antítese, seria uma forma essencialmente oligárquica que encerraria em seu íntimo,tal qual o leviatã hobbesiano, o consentimento do povo para que um poder superior o governe.Nesse mesmo viés o autor francês aponta para mais um elemento do "imaginário democrático", o sufrágio universal", como um bastião do poder conquistado pela oligarquia dos escolhidos,cujo modo configura e perpetua as práticas sociais que garantem sua permanência no poder e o consentimento daqueles que são taxados como cidadãos.Logo,a cidadania não é um direito natural inerente ao humano na república,mas uma condição limitada a todo sujeito "capaz de pagar o censo (RANCIÈRE,2014,p.76) e manter viva a república.Mas como perpetuar o ideário republicano?Rancière afirma que a república se mantém tal como está não só pelas leis mas pelos costumes republicanos, que,sugere-se, são formatados pela educação.De fato,o autor francês localiza a educação como espaço que "dota cada pessoa e cada classe da virtude própria a seu lugar e sua função” (RANCIÈRE,2014,p.83).Assim , ao adentrar na escola,cada aluno introjetará seu lugar no cenário social,definindo-se de antemão não só a quem caberá representá-los,mas também no consentimento prévio dessa representação.

• Escândalo democrático: consiste em revelar que não haverá jamais com o nome de política um princípio uno da comunidade que legitime a ação dos governantes a partir das leis inerentes ao agrupamento das comunidades humanas.p.67
• Sociedade democrática:pintura fantasiosa destinada a sustentar tal ou tal principio do bom governo.as sociedades, tanto no presente quanto no passado, são organizadas pelo jogo das oligarquias.p.68
• Representação:nunca foi um sistema inventado para amenizar o impacto do crescimento das populações.p.69
1. É uma forma oligárquica, uma representação das minorias que tem titulo para se ocupar dos negócios comuns.p.69
2. Expressão de um consentimento que um poder superior pede e que só é de fato consentimento na medida em que é unanime.p.70
3. É o exato oposto da democracia.p.70
• Sufrágio universal:não é em absoluto uma consequência natural da democracia.p.71
Forma mista,nascida da oligarquia, desviada pelo combate democrático e perpetuamente reconquistada pela oligarquia,que submete seus candidatos e às vezes suas decisões à escolha do corpo eleitoral.p.71
• Democracia: longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua felicidade privada, é o processo de luta contra essa privatização, processo de ampliação dessa esfera.p.72
• Ampliar a esfera pública: não significa ,como afirma o chamado discurso liberal, exigir a intervenção crescente do Estado na sociedade.Significa lutar contra a divisão do público e do privado que garante a dupla dominação da oligarquia no estado e na sociedade.p.72
• Povo soberano:o é somente na ação de seus representantes e de seus governantes.p.74
• Cidadãos ativos:capazes de pagar o censo.p.76
• Direitos humanos:direitos do cidadão,isto é,direitos dos que tem direitos.p.77
• Processo democrático: ação de sujeitos que, trabalhando no intervalo das identidades,reconfiguram as distribuições do privado e do público, do universal e do particular.p.80
Deve constantemente trazer de volta ao jogo o universal em uma forma polêmica.p.81
• Universal:continuamente privatizado, continuamente reduzido a uma divisão do poder entre nascimento, riqueza e competência que atua tanto no Estado quanto na sociedade.p.80
• República:termo ambíguo, perseguido pela tensão implicada pela vontade de incluir nas formas instituídas do político o excesso da política.p.82
1. Precisa não somente das leis mas dos costumes republicanos.a republica é um regime de homogeneidade entre as instituições do Estado e dos costumes da sociedade.p.82
2. Remonta a politeia platônica.[.] é o reino da igualdade geométrica,que coloca os que valem mais acima dos que valem menos.p.83
3. Trabalho de uma educação que harmonize ou rearmonize as leis e os costumes,o sistema das formas institucionais e a disposição do corpo social.p.84 • Educação: dota cada pessoa e cada classe da virtude própria a seu lugar e sua função.p.83
• Ensino republicano:separa claramente as duas funções da escola pública:transmitir ao povo o que lhe é útil e formar uma elite capaz de se elevar acima do utilitarismo a que estão fadados os homens do povo.p.86
• Crítica ao individualismo democrático: simplesmente o ódio à igualdade pelo qual uma intelligentsia dominante confirma que é a elite qualificada para dirigir o cego rebanho.p.88
• Distribuição dos saberes tem eficácia social somente na medida em que é também uma redistribuição das posições.p.88
• Governo da ciência: condenado a ser o governo das elites naturais,no qual o poder social das competências científicas se combina com os poderes sociais do nascimento e da riqueza,arriscando-se a suscitar mais uma vez a desordem democrática que desloca a fronteira do político.p.89

AS RAZÕES DE UM ÓDIO

Tentando compreender as razão do ódio à democracia,Rancière define todo o Estado como sendo, por princípio,oligárquico (2014).Sendo assim,a democracia nada mais é do que um lugar onde há espaço para que as paixões de liberdade sejam alimentadas. Para o funcionamento deste regime democrático, de viés liberalista,é necessário que exista uma cultura do consenso, fortalecida pela inter-relação entre os especialistas em soluções e os representantes qualificados (2014).Rancière chama esta relação também de aliança oligárquica da riqueza e da ciência, onde se "exige todo o poder e não admite que o povo ainda possa se dividir e se multiplicar".(2014,p.100) e reconhece que não há neste caso enfraquecimento dos estados,mas uma nova partilha dos poderes que "tende bem mais para o fortalecimento dos Estados do que para seu enfraquecimento” (RANCIÈRE,2014,p.105).È com este argumento que Rancière vai localizar o ódio à democracia,vista como um operador ideológico, por negar as formas de poder e controle que fazem do sistema democrático um sistema de dominação de muitos por poucos escolhidos, os tais representantes.A solução, para o autor,estaria na ação que tensionaria o poder constituído do regime republicano e ,por assim dizer,representacional.Esta ação,"Não se fundamenta em nenhuma natureza das coisas e não é garantida por nenhuma forma institucional.Não é trazida por nenhuma necessidade histórica e não traz nenhuma.Esta entregue apenas à constância de seus próprios atos.p.122.

• Estado:todo estado é oligárquico.p.92
• Oligarquia:dá a democracia mais ou menos espaço,é mais ou menos invadida por sua atividade.p.92
• Estados de direito oligárquicos:em que o poder da oligarquia é limitado pelo duplo reconhecimento da soberania popular e das liberdades individuais.p.94
• Liberdades dos indivíduos: são respeitadas a custa de notáveis exceções em tudo que diga respeito à proteção das fronteiras e à segurança do território.p.94
• Democracia:oligarquia que dá a democracia espaço suficiente para alimentar sua paixão.p.95
• Cultura do consenso: habitua a objetivar sem paixão os problemas de curto e longo prazo que as sociedades encontram,a pedir soluções aos especialistas e discutí-las com os representantes qualificados dos grandes interesses sociais.p.96
• Soberania popular: maneira de discutir o excesso democrático,transformar em arkhé o principio anárquico da singularidade política, o governo dos que não tem título para governar.p.97
• Autoridade dos nossos governantes:legitimada,de um lado, pela virtude da escolha popular e,de outro,pela capacidade dos governantes de escolher as soluções certas para os problemas da sociedade.p.100
• Aliança oligárquica da riqueza e da ciência:exige todo o poder e não admite que o povo ainda possa se dividir e se multiplicar.p.100
• Populismo:formas de secessão em relação ao consenso dominante.p.101
• Grande aspiração da oligarquia:governar sem povo,governar sem política.p.102
• Liberalismo:não precisa de constituição [...].Basta que ele tenha liberdade para operar.p.104
• Nova partilha dos poderes entre capitalismo internacional e Estados Nacionais: tende bem mais para o fortalecimento dos Estados do que para seu enfraquecimento.p.105
• Consumidor democrático: se opõe ao reino das oligarquias financeiras e estatais.p.112
• Democracia:esquecida toda a política, a palavra democracia torna-se então o eufemismo que designa um sistema de dominação .p.112
• Discurso antidemocrático dos intelectuais de hoje: arremata ao esquecimento consensual da democracia pelo qual trabalham a oligarquia estatal e a econômica.p.116
• Novo ódio à democracia:faz da palavra democracia um operador ideológico que despolitiza as questões da vida publica para transforma-la em fenômenos de sociedade,ao mesmo tempo em que nega as formas de dominação que estruturam a sociedade.p.117
• Ódio:visa a intolerável condição igualitária da própria desigualdade.p.119
• Poder estatal e poder da riqueza: conjugam-se em uma única e mesma gestão especializada dos fluxos de dinheiro e populações.eles se empenham juntos para reduzir os espaços da política.p.120
• Democracia de fato: é a ação que arranca continuamente dos governos oligárquicos o monopólio da vida e da riqueza a onipotência sobre a vida.ela é potencia que,hoje mais do que nunca, deve lutar contra a confusão desses poderes em uma única e mesma lei da dominação.p121
Não se fundamenta em nenhuma natureza das coisas e não é garantida por nenhuma forma institucional.não é trazida por nenhuma necessidade historia e não traz nenhuma.esta entregue apenas à constância de seus próprios atos.p.122
Sobre o autor:
O filósofo Jacques Rancière, 55, hoje um dos principais nomes do pensamento francês, iniciou sua vida intelectual —e política— como marxista althusseriano e militante de extrema-esquerda. O movimento de maio de 1968 na França fez com que ele começasse a se distanciar de Marx e especialmente de Louis Althusser, mas não o levou a abandonar o projeto de pensar uma política radical.
fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/entrevista_filosofia_jacques_ranciere.htm

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Fichamento: Edgar Morin-Obra: Sete saberes Necessários para a educação do futuro

Referências bibliográficas:MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2003. Resumo: Em sua obra Sete Saberes necessários para a educação do futuro,o sociólogo francês Edgar Morin analisa a necessidade de transformação na forma de produzir conhecimento da sociedade atual e aponta para a educação como o meio através do qual será possível ensinar para a compreensão.Morin localiza assim o saber atual como compartimentado,afastado da condição humana,incapaz assim de refletir e agir sobre a totalidade do mundo.O autor afirma ser necessário compreender o ser humano em suas mais diversas nuances.sejam biológicas, físicas,culturais ou sociais.é preciso,afirma,restaurar o que significa ser humano. Partindo da ideia de educação compreensiva o sociólogo começa por analisar a incompreensão como a causa abrangente de muitos os males da sociedade atual,que Morin conceitua como sob o reinado da racionalização.o autor diferencia racionalidade de racionalização afirmando que,a primeira é necessária e propositiva. "que elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da organização teórica (MORIN,2000,P.21).Já a racionalização "se crê racional por que constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica” (MORIN,2000,P.21).Associa-se a racionalização a imposição de dogmas e paradigmas que pregam a incompreensão do outro,seja pela cultura,pela fé ou por qualquer membrana através da qual,mesmo obervando o outro,o ser humano não consegue se reconhecer como igual.Isso decorrer,para Morin,porque não busca da verdade,muitas vezes nos esquecemos das atividades da auto-reflexão com que alcançamos o direito de compreender o outro.Em um mundo cada vez mais plural,multifacetado,a educação se configura então cada vez mais compartimentada, distanciada do ser em sua totalidade.Assiste-se,segundo o autor,"assiste-se ao agravamento da ignorância do todo, enquanto avança o conhecimento das partes (MORIN,2000,p.48).Morin demarca a prevalência da era planetária como a época da violência e da destruição mutua entre seres humanos,onde a evolução leva a morte .Para remediar esse mal,será necessária a emergência da consciência que se firma na compreensão da diversidade e da responsabilidade por sobre o futuro do planeta, como formas fundamentais de minorar em alguma medida a crise que se veste de "de ódios de raça, religião, ideologia' e "conduz sempre a guerras, massacres, torturas, ódios, desprezo “(Morin,2000, p.82) Morin propõe a ecologia da ação,como forma de pensar os riscos de toda ação e a inter-relação entre as ações.Somente assim será possível educar para a compreensão,tanto subjetiva como objetivamente. A compreensão assim:
"A compreensão não pode ser quantificada. Educar para compreender a matemática ou uma disciplina determinada é uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade"
(Morin,2000,P.93)
Morin reconhece que há muitos obstáculos à compreensão,como o ruído na comunicação,ou os infinitos significados presentes em um conceito,além da ignorância sobre o outro e de sua estrutura mental.A " possessão por uma ideia, uma fé, que dá a convicção absoluta de sua verdade, aniquila qualquer possibilidade de compreensão de outra ideia, de outra fé, de outra pessoa.” (MORIN,2000,p.99) Frente a essa proposição o cinema seria um meio,para o autor,de produzir identificação, fazendo-nos compreender o que nos soaria estranho de outra forma:
"O cinema, ao favorecer o pleno uso de nossa subjetividade pela projeção e identificação, faz-nos simpatizar e compreender os que nos seriam estranhos ou antipáticos em tempos normais. Aquele que sente repugnância pelo vagabundo encontrado na rua simpatiza de todo coração, no cinema, com o vagabundo Carlitos. Enquanto na vida cotidiana ficamos quase indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos compaixão e comiseração na leitura de um romance .a projeção de um filme" (MORIN,2000,p.101)
Mais além do que somente a compreensão,Morin reafirma a necessidade da tolerância, pela qual devemos respeitar o que mos parece ignóbil e consciência "“ das possessões humanas pelos mitos, ideologias, ideias ou deuses (MORIN,2000,p.102)




Objetivo do Livro:
Há sete saberes “fundamentais” que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura.p.12

• Conhecimento: o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta ready made, que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada. p.13
• Compartimentalização do conhecimento: A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impedem frequentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto,sua complexidade, seu conjunto. p.13
• Ensinar a condição humana: 1. O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la. p.14
2. Reconhecimento da identidade terrena: o reconhecimento da identidade terrena,que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos deve converter-se em um dos principais objetos da educação. p.14
3. Todos os seres humanos, [...] partilham um destino comum. p.15
• A compreensão mútua entre os seres humanos :quer próxima,quer estranha, é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão. p.16
• Incompreensão: A necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas. As causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. p.16
• Democracia: Controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia. p.16.
• Afeto: o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade, isto é, da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da pesquisa filosófica ou científica. A afetividade pode asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo. p.19
• Racionalidade: A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Por um lado, existe a racionalidade construtiva que elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da organização teórica, a compatibilidade entre as ideias que compõem a teoria, a concordância entre suas asserções e os dados empíricos aos quais se aplica.Tal racionalidade deve permanecer aberta ao que a contesta para evitar que se feche em doutrina e se converta em racionalização. p.21
• A racionalização: 1. se crê racional por que constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica. A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta. p.21
2. Começamos a nos tornar verdadeiramente racionais quando reconhecemos a racionalização até em nossa racionalidade. p.23
• Paradigmas e dogmas: Ao determinismo de paradigmas e modelos explicativos associa- se o determinismo de convicções e crenças, que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos e a cada um a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. p.26
• O imprinting cultural : marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escolar. Em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional. p.28
• Sociedade e mito: as sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e ideias, que, por sua vez, domesticam as sociedades e os indivíduos, Mas os indivíduos poderiam, reciprocamente, domesticar as ideias, ao mesmo tempo em que poderiam controlar a sociedade que os controla. p. 29
• Teoria: Uma ideia ou teoria não deveria ser simplesmente instrumentalizada, nem impor seu veredicto de modo autoritário; deveria ser relativizada e domesticada. Uma teoria deve ajudar e orientar estratégias cognitivas que são dirigidas por sujeitos humanos. p.29
• Inesperado: O inesperado surpreende-nos. É que nos instalamos de maneira segura em nossas teorias e idéias, e estas não têm estrutura para acolher o novo. Entretanto, o novo brota sem parar. Não podemos jamais prever como se apresentará, mas deve-se esperar sua chegada, ou seja, esperar o inesperado.p.30
• Busca da verdade: Na busca da verdade, as atividades auto-observadoras devem ser inseparáveis das atividades observadoras, as autocríticas, inseparáveis das críticas, os processos reflexivos, inseparáveis dos processos de objetivação. p.31
• Problemas da educação do futuro: Existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave rntre, de um lado, os saberes desunidos, divididos,compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários. p.36
• Contexto: Para ter sentido, a palavra necessita do texto, que é o próprio contexto, e o texto necessita do contexto no qual se enuncia. p.36
• O todo:o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo. p.37
• Hiperespecialização: impede tanto a percepção do Global (que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela dissolve). Impede até mesmo tratar corretamente os problemas particulares, que só podem ser propostos e pensados em seu contexto.p.40
• Conhecimento especializado: O conhecimento especializado é uma forma particular de abstração. A especialização “abstrai”, em outras palavras, extrai um objeto de seu contexto e de seu conjunto, rejeita os laços e as intercomunicações com seu meio.p.40
• a economia competitiva de mercado :necessita de instituições, leis e regras.p.45
• partes x todo:assiste-se ao agravamento da ignorância do todo, enquanto avança o conhecimento das partes.p.48
• cultura e homem: 1. O homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura e na cultura.p.52
2. é a cultura e a sociedade que garantem a realização dos indivíduos, e são as interações entre indivíduos que permitem a perpetuação da cultura e a auto-organização da sociedade.p.54
• unidade e diversidade : Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo,a multiplicidade do uno.p.55
• sobre o huomo ludens: As atividades de jogo, de festas, de ritos não são apenas pausas antes de retomar a vida prática ou o trabalho; as crenças nos deuses e nas ideias não podem ser reduzidas a ilusões ou superstições: possuem raízes que mergulham nas profundezas antropológicas; referem-se ao ser humano em sua natureza.p.59
• complexidade do ser humano: uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria à tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidadãos da Terra.p.61
• mundialização: 1. A mundialização, no estágio atual da era planetária, significa primeiramente, como disse o geógrafo Jacques Levy: “o surgimento de um objeto novo, o mundo como tal”. Porém, quanto mais somos envolvidos pelo mundo, mais difícil é para nós apreendê-lo.p.64
2. A mundialização é sem dúvida unificadora, mas é preciso acrescentar imediatamente que é também conflituosa em sua essência.p69
• era planetária: Assim, a era planetária abre-se e desenvolve-se na e pela violência, pela destruição, pela escravidão e pela exploração feroz das Américas e da África.p.66
• a evolução humana : é o crescimento do poderio da morte.p.70
• união planetária: a união planetária é a exigência racional mínima de um mundo encolhido e interdependente. Tal união pede a consciência e um sentimento de pertencimento mútuo que nos una à nossa Terra, considerada como primeira e última pátria.p.76
• Consciência: • a consciência antropológica, que reconhece a unidade na diversidade.p.76
• a consciência cívica terrena, isto é, da responsabilidade e da solidariedade para com os filhos da Terra.p.76
• história: A história avança, não de modo frontal como um rio, mas por desvios que decorrem de inovações ou de criações internas, de acontecimentos ou acidentes externos.p.81
• crise mundial: o mundo não só está em crise; encontra-se em violento estado no qual se enfrentam as forças de morte e as forças de vida, que se pode chamar de agonia. Ainda que solidários, os humanos permanecem inimigos uns dos outros, e o desencadeamento de ódios de raça, religião, ideologia conduz sempre a guerras, massacres, torturas, ódios, desprezo. Os processos são destruidores de um mundo antigo, aqui multimilenar, ali, multissecular. A humanidade não consegue gerar a Humanidade.p.82
• realidade: a realidade não é facilmente legível. As ideias e teorias não refletem, mas traduzem a realidade, que podem traduzir de maneira errônea. Nossa realidade não é outra senão nossa ideia da realidade.p.85
• ecologia da ação, que compreende três princípios: 1. Para toda ação empreendida em meio incerto, existe contradição entre o princípio do risco e o princípio da precaução, sendo um e outro necessários.p.88
2. Como os meios e os fins inter-retro-agem uns sobre os outros, é quase inevitável que meios sórdidos a serviço de fins nobres pervertam estes e terminem por substituí-los.p.88
3. A ação não corre apenas o risco de fracasso, mas de desvio ou de perversão de seu sentido inicial, e pode até mesmo voltar-se contra seus iniciadores.p.88
• comunicação e compreensão: 1. nenhuma técnica de comunicação,do telefone à Internet, traz por si mesma a compreensão. A compreensão não pode ser quantificada. Educar para compreender a matemática ou uma disciplina determinada é uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade.p.93
2. A comunicação não garante a compreensão.p.94
• Formas de compreensão: Há duas formas de compreensão: a compreensão intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva. Compreender significa intelectualmente apreender em conjunto, comprehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno).p.94
1. o outro: O outro não apenas é percebido objetivamente, é percebido como outro sujeito com o qual nos identificamos e que identificamos conosco.p.95
• Os obstáculos exteriores à compreensão intelectual ou objetiva são múltiplos: 1. Existe o “ruído” que parasita a transmissão da informação, cria o mal-entendido ou o não entendido.p.95
2. Existe a polissemia de uma noção que, enunciada em um sentido, é entendida de outra forma.p.95
3. Existe a ignorância dos ritos e costumes do outro.p.95
4. Existe, enfim e sobretudo, a impossibilidade de compreensão de uma estrutura mental em relação à outra.p.95
• A self-deception :é um jogo rotativo complexo de mentira, sinceridade, convicção, duplicidade, que nos leva a perceber de modo pejorativo as palavras ou os atos alheios, a selecionar o que lhes é desfavorável, eliminar o que lhes é favorável.p.96
• possessão por uma ideia, uma fé, que dá a convicção absoluta de sua verdade, aniquila qualquer possibilidade de compreensão de outra ideia, de outra fé, de outra pessoa.p.99
• A ética da compreensão : 1. pede que se compreenda a incompreensão.p.100
2. A ética da compreensão pede que se argumente, que se refute em vez de excomungar e anatematizar.p.99-100
• O que favorece a compreensão é: 1. Este é o modo de pensar que permite apreender em conjunto o texto e o contexto, o ser e seu meio ambiente, o local e o global, o multidimensional, em suma, o complexo, isto é, as condições do comportamento humano.p.100
2. A prática mental do auto-exame permanente é necessária, já que a compreensão de nossas fraquezas ou faltas é a via para a compreensão das do outro.p.100
3. A compreensão do outro requer a consciência da complexidade humana.p.101
• cinema e compreensão: O cinema, ao favorecer o pleno uso de nossa subjetividade pela projeção e identificação, faz-nos simpatizar e compreender os que nos seriam estranhos ou antipáticos em tempos normais. Aquele que sente repugnância pelo vagabundo encontrado na rua simpatiza de todo coração, no cinema, com o vagabundo Carlitos. Enquanto na vida cotidiana ficamos quase indiferentes às misérias físicas e morais, sentimos compaixão e comiseração na leitura de um romance .a projeção de um filme.p.101
• quatro graus de tolerância: 1. obriga-nos a respeitar o direito de proferir um propósito que nos parece ignóbil.p.102
2. a essência da democracia é se nutrir de opiniões diversas e antagônicas; assim, o princípio democrático conclama cada um a respeitar a expressão de ideias antagônicas às suas.p.102 3. há uma verdade na ideia antagônica à nossa, e é esta verdade que é preciso respeitar.p.102
4. consciência das possessões humanas pelos mitos, ideologias, ideias ou deuses.p.102
5. A tolerância vale, com certeza, para as ideias, não para os insultos, agressões ou atos homicidas.p.102
• A compreensão entre sociedades :supõe sociedades democráticas abertas, o que significa que o caminho da compreensão entre culturas, povos e nações passa pela generalização das sociedades democráticas abertas.p.104
• a ética propriamente humana, ou seja, a antropo-ética,: deve ser considerada como a ética da cadeia de três termos indivíduo/sociedade/espécie, de onde emerge nossa consciência e nosso espírito propriamente humano. Essa é a base para ensinar a ética do futuro.p.106
democracia: A democracia fundamenta-se no controle da máquina do poder pelos controlados e, desse modo, reduz a servidão (que determina o poder que não sofre a retroação daqueles que submete); nesse sentido, a democracia é mais do que um regime político; é a regeneração contínua de uma cadeia complexa e retroativa: os cidadãos produzem a democracia que produz cidadãos.p107
A política fragmentada :perde a compreensão da vida, dos sofrimentos, dos desamparos, das solidões, das necessidades não quantificáveis.p110
• regressões democráticas: processos de regressão democrática que tendem a posicionar os indivíduos à margem das grandes decisões políticas .p.110
• política,técnica e democracia: Quanto mais a política se torna técnica, mais a competência democrática regride.p.111
Bibliografia do autor: Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921, é um sociólogo e filósofo francês.Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. É considerado um dos principais pensadores sobre a complexidade. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método (6 volumes), Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. É considerado um dos pensadores mais importantes do século XX e XXI. Fonte: http://www.edgarmorin.org.br/vida.php