segunda-feira, 15 de maio de 2017

Fichamento Raquel Paiva –Espírito Comum

Fichamento Raquel Paiva –Espírito Comum PAIVA, Raquel (Org.). O retorno da comunidade: os novos caminhos do social. Rio de Janeiro: Mauad X, 2003. 198p. Foco Central: Experiência comum, que unifica a diversidade das relações de sentido na unidade de produção social. Página 10 Perspectiva de comunidade: Diz respeito aos agenciamentos interpessoais e midiáticos. Página 10.Construção de um novo laço social. Objetivo: o arquétipo da comunidade ganha força na Era do crescimento econômico baseado nas tecnologias da comunicação (turbocapitalismo de Sodré) Afastamento: perspectiva rousseniana de comunidade, ou seja, (...), impulso nostálgico na direção de um Paraíso. Página 20 PREFÁCIO: • Sociedades modernas: arriscam-se ao autoritarismo justamente por causa do liberalismo que tentaram realizar. Página 10 • Comunidade: instrumento cultural (...), significação mobilizadora de transformação social. Página 17 INTRODUÇÃO: 1. Comunidade: • Tem aparecido como investida de um poder de resgate da solidariedade humana ou da organicidade social perdida. Página 19 • Palavra posta no centro da nova forma da questão social , sociedade extremamente bipolarizada em matéria de classes sociais. Página 20 2.informação: acaba exaurindo seu conteúdo, já que, ao invés de comunicar ela se esgota na representação da comunicação. Página 22 Aproximação com a representação apresentativa da mídia, de Muniz Sodré. PROPOSTA: Um pensamento sobre comunicação, hoje, comporta uma abordagem centrada não apenas na grande mídia, como também nas alternativas que têm sido tentadas. Página 22 Resumo: Pensar em comunicação hoje significa pensar na hegemonia da grande mídia, mas também nas alternativas a ela. 4. Análise da dinâmica comunitária: traz à tona a experiência da idade média, momento em que encontra seu apogeu. (...) A afiliação ao grupo absorvia o indivíduo inteiramente. Página 23 5. Gemeinschaft e Geselshaft (Tonnies) 5.1. Tonnies: entende comunidade como uma realidade concreta, causa de mudanças e alterações. Página 23 5.2. Tocqueville: enxerga o primeiro momento como marcado pela aristocracia (e o segundo pela democracia. Página 23 5.3 . Le Play: vê o primeiro instante como calcado na família patriarcal e o segundo, a partir do modelo da família instável. Página 23 5.4 . Marx: define como tópicos os regimes de produção feudal e o capitalismo. Página 23 DIÁLOGO: Baudrillard: comunicação de massa: as massas sempre se mantêm fascinadas pelo meio, ao invés de promoverem uma leitura critica das mensagens veiculadas. Página 24 QUESTÃO: é possível vislumbrar na comunidade de consumidores resquícios da comunidade tradicional? QUESTÃO: Se a atomização da sociedade praticamente corroeu a estrutura tradicional da comunidade em prol da individualização, de que maneira a comunicação poderia consolidar-se a não ser através da padronização? 6.simbólico da sociedade: suas representações agora são produções de mídia. Página 25 Aproximação com o conceito de bios midiatizado de Muniz Sodré. PROPOSTA DA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: 1. Passa pela revisão do conceito de comunidade, em como pela análise da possibilidade de inserção dessa estrutura na atualidade. Página 26 2. Cidadania e solidariedade: transformam-se em paradigmas que permitem imaginar uma ordem com objetivos diferentes da premissa econômica universalizante. Página 26 3. Comunicação comunitária como forma de fazer frente ao modelo econômico em que o número dos excluídos parece cada vez mais ampliado. Página 26 4. Comunitarizar a comunicação. Página 26 CAPÍTULO 1: GLOBALIZAÇÃO COMO ORDENAÇÃO SOCIAL Resumo: No CAPÍTULO 1 a autora começa a desenhar o cenário de um mundo globalizado, ou seja, ordenado de acordo com as perspectivas do capital. Da mesma forma, Paiva afirma que os processos de globalização são indissociáveis dos de localização, uma vez que, as novas tecnologias podem sugerir agrupamentos diversos e muitos analistas econômicos começam a pensar na importância de valores como a confiança na estruturação e no fluxo de capitais. Localizando o mundo globalizando entre compradores e vendedores, a autora vai confrontar-se com o pensamento do autor argentino Nestor Canclini, que afirma ser o consumo uma forma de exercer a cidadania. Em contrário, Paiva sugere que a constituição de um ordenamento mercadológico do mundo, ou catalaxia, como conceitua Sodré, acentua um apartheid social e mascara as mazelas provocadas pelo sistema capitalista. Dessa forma, Paiva pontua que a atual configuração do trabalho provoca uma perda da possibilidade de pertencimento do sujeito em relação a seu grupo, restando-lhe o núcleo familiar como última microcomunidade. Nessa perspectiva, Paiva dialoga com o pensamento de Frederic Engels para compreender as configurações de família, como base da estrutura social. Em conformidade com Engels, a autora caminha da família consanguínea, centrada nas relações de acúmulos de bens e riquezas, até a família contemporânea, construída sob a égide do afeto e desprovida da necessidade de contratos. Entretanto, enquanto minicomunidade, o núcleo familiar continua sendo necessário, "porque além de compactuar com a instancia produtiva, (...) administra também a atividade de consumo” (PAIVA,2003, p.42), em tempos e espaços pautados na atualidade pela lógica do capital Nesse cenário, em que, segundo a autora, o social se esvanece, a comunicação converte-se em estratégia de produção de hiper-realidade, orquestrada pela mídia (ibid., p.44). Dialogando com os pressupostos teóricos freudianos, Paiva sugere que a histeria poderia fornecer formas de leitura do discurso midiático, onde cada formação econômica definira uma neurose especifica e a erotização da mídia aproximar-se-ia com a das formas histéricas. Por esse motivo Paiva reforça a importância da ideia de comunidade no Ocidente, frequentemente associada a um mundo melhor e a importância das narrativas comunais, em que interpretações e releituras são selecionadas, determinando o espírito da comunidade. Logo, se os meios de comunicação estão inseridos na realidade cotidiana, através do que Todd Gitlin chamara de saturação midiática e Sodré de bios midiatizado e onde o Estado age no papel de gerenciador técnico do capital, a hipótese da autora concentra-se em pensar em alternativas contrarias à ordem vigente, possibilitadas pela própria estrutura social. Conceitos fundamentais 1. Localismos: • Provocam uma dificuldade crescente em lidar com os níveis ascendentes de complexidade cultural. Página 29 • Desejo de permanecer numa localidade delimitada. Página 29 2. Processos de globalização: • Indissociáveis dos de localização. Página 29 • O mundo passa a ser um só lugar, com inevitável aumento de contato. Página 29 1.Mercado internacional e trabalho 3.tendencia a globalização: instaura-se no momento seguinte ao da Guerra Fria. Página 30 4. modelo tripolar: • EUA, Rússia e países intermediários. Página 31 • Estado clássico: foco de desenvolvimento econômico, mas também um projeto político. Página 31 5. Globalização: bipartição da humanidade em duas categorias esquemáticas: vendedores e compradores. Página 31 6. Planetarização: instaura a compreensão do mundo a partir de mercados. Página 31 CRÍTICA DE RAQUEL PAIVA: A Nestor Canclini, por atrelar o consumo ao exercício da cidadania. 7. Preocupação com o fortalecimento do capital: • Alguns teóricos começam a associar o fortalecimento do capital ao comprometimento com a vivencia grupal. Página 32 • Se os membros de uma sociedade podem confiar em pessoas externas ao núcleo familiar, podem gerar capital social, isso vale para o bem-estar econômico e o capital financeiro. Página 33 8.confiança: pressuposto básico da comunidade. Página 33 9.atual configuração do trabalho: • Coteja ingredientes até então impensáveis, como a dispersão nas etapas de produção. Página 35 • Perde sua possibilidade geradora de pertencimento. Página 35 10. apelo ao nacionalismo: evoca aspectos da estrutura comunitária, na medida em que associa elementos da identidade nacional com o pertencimento territorial. Página 35 2.Agrupamento familiar e exclusão 11. família: base da estrutura social. Página 35 12.relações intersubjetivas: onde está guardado o desejo profundo do indivíduo de ter êxito no drama da existência. Página 36 13. matrimonio moderno: perdeu o sentido. Página 36 14.famÍlia consanguínea (Engels): • Comporta o casamento por grupos. Página 37. 15. família punuluana (Engels): exclui as relações sexuais entre os irmãos. (...) Sistema de concentração de riqueza. Página 37 16. família sindiásmica (Engels): • A poligamia é raramente observada por uma questão econômica. Página 37 • Criou uma nova ordem, introduzindo a riqueza privada e a preocupação com a força de trabalho. Página 38 17.família (Engels): produto do sistema social e refletirá o estado de cultura desse sistema. Página 38 18.nova ordem: elege a circularidade e transnacionalidade como padrões de comportamento. Página 39 19. bem e riqueza: deixam de ser representados pelo acúmulo de propriedade e bens, mas pelo poder de circulação, acesso à tecnologia e pelos bens que consomem. Página 39 20.analistas simbólicos: integram um conjunto de profissões (...), cuja atividade trata de identificar problemas e promover a venda de soluções através da manipulação de símbolos. Página 39 21.serviços rotineiros de produção: tarefas repetitivas de supervisão e gerência. Página 39 22.serviços pessoais: tarefas repetitivas em que os profissionais vendem seus serviços diretamente aos usuários. Página 40. 23.família contemporânea (Calligaris): a família contemporânea é construída ao redor do amor (...). Não é mais necessário fazer um contrato. Página 40 24.desaparecimento de estruturas: no momento em que se consolidam posturas autocentradas no indivíduo. Página 40 25.família hoje: • Continua sendo necessária. Página 42 • Importante enquanto minicomunidade, porque além de compactuar com a instancia produtiva, (...) administra também a atividade de consumo. Página 42 • Família fastfood: organiza os jantares congelados. Página 42 • Sua marca mais forte é a administração das suas atividades. Página 42 26. lugar do pai: pode vir a ser ocupado pela estrutura educacional e sistemas de governo totalitários. Página 43 3.Comunicação como estratégia 27.tempo e espaço: as medidas de tempo e espaço não são hoje mais determinantes. Página 44 28.o outro: a quem os modelos clássicos de comunicação chamam de receptor, transforma-se numa voz sobre quem pouco se sabe. Página 45 29. informação: devora seus próprios conteúdos (Baudrillard). Página 45 30.comunicação: • Converte-se em estratégia de produção de hiper-realidade, orquestrada pela mídia. Página 46 • Social: se esvanece. Página 46 31.nova mídia: o que existe é uma relação de pessoa para pessoa. Página 46 ARGUMENTO: Vê a internet como movimento próprio de um processo de segmentação de públicos, (...), uma alternativa produzida com o propósito de sustentação da estrutura comunicacional vigente. Página 47 32.comunicação comunitária: • Orientada não por uma lógica puramente empresarial, mas principalmente por determinações grupais ou comunais. Página 48 • O veículo deve ser adequado ao projeto global. Página 48 33. evolução técnica: alterou de maneira irrevogável a sua estrutura cognitiva, consequentemente sua compreensão do mundo e das bases que antes o sustentavam. Página 49 34.excesso informacional: não possibilitou aproximação efetiva entre os povos. Página 49 35.leitura da estrutura discursiva da mídia: é possível uma interpretação da contemporaneidade. Página 50 36.histeria de conversão (Freud): de onde a autora parte para ler o discurso midiático. • O discurso exaure-se por si mesmo, tornando visível o entendimento do mundo como espetáculo. Página 51 • A influência das premências culturais torna algumas civilizações neuróticas. Página 51 37. formação econômica e neurose: cada formação econômica pode ser representada por uma neurose específica. Página 51 38. erotização do discurso: a erotização do discurso presente na histeria é também passível de comparação direta com o discurso midiático. Página 52 39.vontade de interpretar: coloca em evidência o modo de existir do homem no mundo. Página 54 PROPOSTA: discutir uma reversão capaz de propiciar comprometimento e uma fala que seja a expressão de vivência real, de experiência concreta. Página 54 40. ideia de comunidade no ocidente: sempre esteve no imaginário social, como a proposta de um mundo melhor. Página 55 41.discurso inserido no cotidiano: pressupõe a prerrogativa da coexistência, do ser-em-comum com os outros. Página 56 42.surgimento de veículos comunitários: tem caráter basicamente local. Página 56 43.importancia das narrativas na comunidade: (USAR NO PROJETO) • Sua interpretação pode definir (.) a maneira como o grupo de indivíduos se relaciona com o mundo. Página 57 • A seleção do que merece ser interpretado, repassado e revivido determina o espírito da comunidade. Página 57 44.compreensão da comunicação comunitária: revela o objetivo de conectar os discursos da existência. Página 57 45.meios de comunicação: perfeitamente integrados à realidade social. Página 58 Diálogo com o conceito de bios midiático de Muniz Sodré e saturação de mídia de Todd Gitlin HIPÓTESE: A estrutura social vigente por vezes evoca a introdução da ordem contrária (contra-hegemonia) 46.Estado: • Desloca-se para a função de gerenciamento técnico (...) do capital. Página 60 • Omisso, principalmente no que tange à mediação social. Página 61 47.O Estado, para Tonnies: • Instituição própria da estrutura societária. Página 61 • Seu fim é organizar a vida social. Página 61 48.Estado nação: passa a contar com o sentimento de pertencimento e coesão por parte da sua população. (...) as pessoas envolvidas nas questões próprias do Estado reconhecem-se como parte do todo. Página 61 49.mídia: expressa a lógica do capital porque não há diferença entre ambas. Página 6 CAPÍTULO 2: LEITURAS POSSÍVEIS DE COMUNIDADE 1. Ideia de comunidade: fundamental no processo romântico alemão e trafega por conceitos como povo, nação, estado e sociedade. Página 65 2. Sociedade e comunidade: podem coexistir, definindo de forma decisória a vida do homem atual. Página 66 Do suposto paraíso 3. Contemporaneidade: evidencia a dissolução de valores e o esfacelamento da identidade, colocando em xeque a própria existência da sociedade. Página 66 4. Comunidade, para Kant: teria um duplo significado, podendo indicar tanto comuniquem quanto comerciam e opta pela segunda opção. Atribuindo-lhe o sentido de comunhão dinâmica. Página 68 5. Comunidade para Schleirmacher: forma de vida social caracterizada pela orgânica, perfeita e intrínseca relação entre os seus membros, contrapondo-a à sociedade. Página 68 6. Comunidade na perspectiva sociológica: • Folk Society: dirige-se a pequenas sociedades. Pagina 68 • Menor grupo social e o primeiro nível de organização social. Página 72 Jogo dos Espelhos 7. Comunidade na perspectiva psicológica: • Comporta relações sociais que vão desde a amizade (...) à comunicação ou comunhão de ideias. Página 68 • Qualidade de relação de indivíduos que se caracteriza por sentimentos de solidariedade. Página 71 8. Comunidade na perspectiva psicológica: relação (..) onde existe a possibilidade de participar nas decisões que o grupo deve tomar, (...) a tônica da cooperação. Página 69 9. Comunidade para Hobbes: a ideia de sociedade sucede a de comunidade. Página 69 10. Comunidade para Tonnies: • A compreensão do que vem a ser a comunidade (vem de questões como) família e propriedade da terra. Página 69 • Linguagem: grande responsável pela expressão do afeto dos costumes e da fé em comum. Página 69 • Na sociedade o que prevalece é a vontade individual (...), na comunidade é a vontade comum e o interesse coletivo que dominam. Página 70 11. Família: arquétipo de onde derivam tanto os grupamentos de base territorial quanto os afetivos. Página 72 Território e relação 12. Identificação: • Pauta-se por afetividade e proximidade. Página 72 • Freud considera que a civilização, para conseguir manter unida uma comunidade, lança mão de fortes identificações entre seus membros. Página 73 13. Limites para os instintos agressivos: são indispensáveis para a continuidade da civilização. Página 73 Comunicação e nova espacialidade Resumo No CAPÍTULO 2, a partir das diversas noções e conceitos de comunidade a autora pretende desenhar as possibilidades de aplicação da perspectiva comunal na vida atual. De fato, Paiva critica em todas as concepções a ideia de comunidade como "imaginária, mais do que um conceito que se possa usar operativamente” (PAIVA,2003, p.68). Acima autora norteia os conceitos de comunidade na perspectiva psicológica, onde se caracteriza por sentimentos de solidariedade, chegando até o olhar sociológico, localizando a comunidade como menor grupo social. Dialogando novamente com Hobbes, que localiza a ideia de sociedade sucedendo a de comunidade, Paiva vai compreender com Tonnies o que vem a ser comunidade como as questões da família e da propriedade de terra. Logo, evidenciam-se as imbricações entre território e relação na sociedade, onde observam que as identificações se pautam pela afetividade e proximidade, necessários para a união de uma civilização. É esta mesma civilização contemporânea que a autora compreende como afetada pela excessiva mobilidade e a prevalência da vontade e os interesses individuais. Nessa perspectiva, onde a contemporaneidade dissolver valores sociais, a autora compreende que sociedade e comunidade podem coexistir, agindo sobre a vida do homem contemporâneo e propõe que a reestruturação de um grupo social passe por bases comunitárias de atuação. 14. Excessiva mobilidade: • Provocou revisão da importância espacial. Página 76 • Muitos a consideram responsável pela destruição da comunidade local. Página 76 15. Reestruturar um grupo social: quer dizer colocar em questão bases comunitárias de atuação. Página 76 16. Falar de comunidade: entrar no campo religioso, principalmente cristão, porque estão implícitos os conceitos de fraternidade, reciprocidade, confiança e comunhão. Página 78 PROPOSTA: A partir da definição conceitual do que venha a ser comunidade, desenhar as possibilidades de sua elaboração e aplicação na vida atual. Página 79 PROPOSTA: perceber as maneiras como o sujeito tem realizado sem projeto de dividir o espaço e de que maneiras outras poderia rearranjar seu cotidiano. Página 79 CAPÍTULO 3: COMUNIDADE COMO EXISTÊNCIA Resumo No CAPÍTULO 3, Raquel Paiva vai falar sobre a relação entre o sujeito e o outro, compreendendo que o homem vive mais na comunidade do que em sua individualidade. O outro, para a autora estrutura a personalidade e o inconsciente do sujeito, constituindo o ser em comum, responsável pela linguagem. Em igual medida, Paiva recorre ao conceito de clinamen de Epicuro, para pensar a relação do sujeito em comunidade. Assim como dois átomos em queda livre que se chocam, alteram a trajetória um do outro, a comunidade seria para autora o clinamen do indivíduo, alterando-o e constituindo sua existência em relação ao outro. Paiva ressalta que o estar junto não seria definido pela proximidade, mas por “uma atitude recíproca de interioridade (PAIVA,2003, p.85) ”. Dessa forma, a religião seria a instância com a função por excelência de promover a comunhão entre os indivíduos, que partilham da mesma existência, reconhecendo-se na vida do outro, não só pelo efeito aglutinador do cotidiano, mas pela percepção do existir na relação do “ser em comum”. IDEIA CENTRAL: O homem vive mais na comunidade do que em sua individualidade. 1.Comunidade: • Representa para o indivíduo a via de estruturação de sua existência. Página 81 • Postura mais integrada do homem em seu cotidiano. Página 83 3. O outro: • É constitutivo da personalidade e do inconsciente do sujeito. Página 81 • Ser em comum (Heidegger): instância responsável pela presença no mundo da linguagem. Página 82 • O espaço e o tempo como instâncias definidoras, constituem a comunidade do ser-em-comum. Página 82 Inclinar-se para o outro 4.clinamen (Epicuro): • Dois átomos que estão em queda livre no espaço e se encontram, chocando-se. página 82 • Comunidade: clinamen do indivíduo. Página 82 Sob os dogmas cristãos 5. propósitos básicos do ideal de comunidade: nela o indivíduo encontra-se ligado, em relação. Página 84 6. estrutura societária: onde a associação passa a reger a vida dos indivíduos, com propósitos de aproximação. Página 84 7.capacidade de relação com o outro: foge ao entendimento grego de vida (vê o outro como algo que está fora). Página 84 8.estar junto: não significa partilhar a experiência do outro (...). Não é apenas a proximidade que define, (...), mas uma atitude recíproca de interioridade. Página 85 9.religiao: tem a função de promover a comunhão entre os indivíduos. Página 85 10. solidão: tem uma função importante e também se configura como caminho para abordagem da diferença e da aceitação. Página 86 11.ideia de comunidade para Bonhoeffer: elemento de união entre indivíduos que reforça o espírito de fraternidade e convivência. Página 86 12.radicalidade: está em aceitar a liberdade do próximo (...) e que coloca por muitas vezes a relação à prova. Página 86 13.cotidiano: gera um efeito aglutinador e também tranquilizador do grupo, que se sente estabelecendo relacionamentos sem os riscos das relações ocasionais. Página 87 í Conviver com o outro 14. necessidade de pertencimento do indivíduo: significa também o seu enraizamento no cotidiano do outro. Página 87 15.relação comunitária: o indivíduo, ao partilhar da existência, se reconhece na vida do outro. (...) do nascimento à morte pode-se perceber o próprio existir. Página 88 CAPÍTULO 4: COMUNIDADE DAS TROCAS REAIS E SIMBOLICAS Resumo Já no CAPÍTULO 4, Paiva vai recorrer a diversos autores para compreender as trocas simbólicas entre os sujeitos e as transformações pelas quais passam essas trocas, na ascensão da sociedade, em substituição à comunidade. Identificando a língua como o elo concreto que define um grupo e que confere estatuto de realidade a este grupo, Paiva dialoga com Karl-Otto Apel para compreender os âmbitos da ação humana, que são a família política internacional e os interesses vitais à humanidade. Assim, a autora localiza a civilização cientifico-técnica, como afastada da tradição moral do grupo, rompendo com a vida em comunidade tonniesiana onde posse prazer, bens e males são comuns e ligados ao território e à família. Na passagem da comunidade à sociedade, o trabalho, que antes era ligado à herança familiar, torna-se fruto do gosto individual e o sentimento de pertencer dá lugar ao descomprometimento. Entretanto a autora não enxerga um fim nas perspectivas comunitárias da atualidade, observando, em diálogo com Olivetti, que o desenvolvimento da sociedade "pode permitir o nascimento do interesse comum de ordem moral e material entre os homens (...) a partir da comunidade de interesses” (PAIVA,2003, P.100) firmada através das trocas simbólicas que suscitem a consciência do ser em grupo, a qual, segundo Cassiano, constitui a ordem social. Intercambio das experiências do cotidiano 1. Língua: • Compõe um conjunto que os sujeitos duma localidade se dispõem a partilhar, como forma básica de repartir suas experiências. Página 91 • É também o elo concreto através do qual se consegue definir um grupo, uma comunidade, um território. Página 92 • Constituiria para Apel uma comunidade da comunicação. Página 94 2. Comunicação: estatuto de realidade, inter-relação e participação efetiva dos integrantes do processo comunicacional. Página 92 3. Ação humana (Apel): • Microâmbito: família. (...)página 92 • Mesoâmbito: política internacional. (...)onde a ação humana se reduz em grande medida ao impulso arcaico do egoísmo de grupo e da identificação. Página 92 • Macroâmbito: destino da humanidade. (...). Interesses vitais humanos. Página 92 4. Civilização científico-técnica: colocou todos os povos, raças e culturas sem cuidado com a tradição moral do seu grupo específico. Página 93 5. Liberalismo ocidental: tem limitado a obrigatoriedade da fé religiosa e da moral à esfera da decisão privada da consciência. Página 93 Comunhão e partilha 6. Vida em comunidade (Tonnies): • Posse e prazer mútuos, assim como posse e gozo dos bens comuns e males comuns. (...)na sociedade, há a disposição dos interesses comuns. Página 94 • Ligado ao território. Comunidade significa dividir o mesmo espaço físico. Página 95 • Família e as relações de vizinhança são definidoras do que vem a ser a comunidade. Página 95 7. Casa: corporificação das relações (da comunidade). Página 95 8. Mesa: engloba a produção dos alimentos e o espaço onde se reúnem todos os membros da casa. Página 95 9. Vizinhança: portadora da fraternidade, no sentido mesmo de sentimentalismo ético-econômico. Página 95 10. Consenso: sentimento recíproco, obrigatório, com vontade peculiar da comunidade. (...)responsável pela existência comunitária. Página 96 11.religião: ligação dos sujeitos na sociedade. Página 96 12. forma de organização comunitária: baseada na economia da reciprocidade, pela qual a terra e os bens pertencem a todos. Página 97 13. trabalho: regido pela preocupação de prosseguimento à herança familiar, enquanto na sociedade a eleição se dá em função do gosto individual. Página 97 14. vontade: Wesenwille (vontade natural) e Kurwille (vontade racional): uma ligada à espontaneidade e hábitos e a outra como expressão da reflexão e que fixa os objetivos e os meios para alcançá-los. Página 97 Sintonia da convivialidade 15.relação social de comunidade: quando se apoia em um único aspecto sobre um sentimento comum de pertencimento dos indivíduos. Página 98 16. Estrangeiro: permanece com a característica do descomprometimento. Página 99 17.aproximação com o outro (Cassando): fundada no reconhecimento da diferença. Página 99 18.mediação (Cassando): a mediação simbólica é uma função essencial na constituição da ordem social. Consciência é determinada pela mediação simbólica. Página 100 Praticidade organizacional como possibilidade real 19.desenvolvimento da civilização moderna (Olivetti): pode permitir o nascimento do interesse comum de ordem moral e material entre os homens(...) a partir da comunidade de interesses. Página 100 20. medida humana da comunidade: define-se pela disposição de cada pessoa para o contrato social. Página 101 21. resgate do sentimento de pertencimento (Olivetti): • Implica dar ao território das novas comunidades um nome histórico. Página 101 • A globalização diminuiu os contatos humanos. Página 102 CAPÍTULO 5: COMUNIDADE REALIZADA No CAPÍTULO 5, a autora vai compreender as formas de união dos sujeitos, compreendendo o estabelecimento de veículos como uma forma de gerar o pertencimento que constitui a comunidade. Dessa forma Paiva aproxima-se do pensamento freudiano sobre os regulamentos da civilização para identificar na comunidade um mecanismo do homem para se proteger contra a dor. Em outro diálogo com Scheleirmacher, Paiva observa a diferença entre a sociedade e a comunidade através da concepção de filhos do mundo, que são envolvidos com o trabalho organizado e centrados em si mesmos (sociedade) e os filhos do espírito (comunidade) preocupados em estabelecer vínculos profundos. Os vínculos seriam os fundadores da comunidade. Assim como a linguagem e a lei partem da apropriação do espaço-tempo pelo grupo, o real poderia ser formulado a partir da vontade destes sujeitos em comum. Apesar de visualizar esse objetivo com os pressupostos teóricos de Marx, Raquel Paiva ressalta que o filósofo alemão não engrossa o coro dos que creem na comunidade como momento histórico(...) ou como estrutura social justa” (PAIVA,2003, p.112) ”. Em contrário, associa-a à sociedade feudal, localismos e a uma forma societal idílica que tem servido ao despotismo Perspectiva de unidade 1. Tendência à união: marca mais importante do espírito comunitário. Página 106 2. Estabelecer vínculos: instaurar um sistema capaz de gerar o sentimento e o direito regidos pelo fazer parte da comunidade. Página 107 3. Regulamentos da civilização (Freud): • Proteção contra os instintos hostis do homem. Página 107 • O homem produz mecanismos capazes de se proteger contra a dor. (...). Um caminho é tornar-se membro da comunidade humana. Página 107 Ex: Filme: A Vila Para uma comunidade do amor 4. Filhos do mundo (sociedade para Scheleirmacher): • Indivíduos envolvidos com o trabalho organizado(...), centrados no indivíduo como força socialmente organizada e preocupados em subjugar a natureza. Página 108 • Usam a linguagem corrente apoiada numa conexão mecânica dos termos. Página 108 • Ideal romântico. Página 110 5.filhos do espírito (comunidade para Scheleirmacher): • Preocupados em estabelecer vínculos profundos. Essa comunidade ainda não existe no real. Página 108 • A linguagem é uma prisão para eles, porque precisam encontrar os termos adequados. Página 109 Para a reformulação da estrutura social 6.comunidade e sujeito: • O que funda a comunidade é o vínculo espiritual, linguagem e lei que unem culturalmente os indivíduos. Página 111 • A comunidade contêm o indivíduo,mas é o sujeito que realiza a comunidade. Página 111 7. perspectiva marxista de apropriação do real: • sociedade como ordenadora do papel social do sujeito. Página 112 • Marx. Não engrossa o coro dos que creem na comunidade como momento histórico(...) ou como estrutura social justa. Página 112 Obá associa à sociedade feudal, localismos e a uma forma societal idílica que tem servido ao despotismo. 8. Comunidade e sociedade para Weber: tipos fundamentais de estrutura social. Página 113 CAPÍTULO 6: PROPOSTAS DE VIABILIZAÇÃO COMUNITARIA No sexto CAPÍTULO, Raquel Paiva vai consolidar o conceito de comunidade, atuando em conjunto com o modelo societal. Identificando na época atual a debilidade do poder público, o aumento do desemprego e o consumo como estrutura estruturante no cenário social, a autora vai pontuar o surgimento de instituições intermediárias, que se localizam entre as instituições políticas e a sociedade civil. Nessa perspectiva, Paiva dialoga com Schmitz para construir uma visão sobre as instituições, como entidades que asseguram o bem comum dos indivíduos. Atuando nas comunidades, as instituições podem auxiliar a consolidação e no fortalecimento dos laços comunitários. Dessa forma, reconhece-se o poder local como movimento democrático que está no centro de transformações que envolvem maior participação e desburocratização, confrontando-se com o ideal societário globalizado e seus princípios de hegemonia e exclusão. Nessa perspectiva a autora aponta para o formato cooperativista como instrumento capaz de valorizar e auxiliar áreas abandonadas pelo mercado e Estado. Apesar de reconhecer a eficácia deste modelo, Paiva ressalta que esta pode ser uma forma do governo isentar-se de suas responsabilidades na área social. Fichamento: 1.Consumo: torna-se a cada dia elemento capaz de definir o perfil dos grupos. Página 116 2.desempregados:um dos fatores que tem propiciado o surgimento dos movimentos em prol da cidadania. Página 116 3.debilidade do poder público: • Produz não somente o sentimento de abandono, mas também permite a entrada e fortalecimento de outras ordens. Página 117 • Instituições intermediárias: organismos que propiciaram existência saudável entre as instituições políticas e a sociedade civil. Página 118 Comunidade como instituição 4. relação contratual: demonstra-se insustentável caso não faça sentido e não seja referendada pelo grupo. Página 118 5.instituições: formas estáveis e relativamente definidas para caracterizar até mesmo crenças e ideias. Página 119 • Na falta de instituições o sujeito está perdido. Página 119 6.tarefa ontológica da instituição: assegurar o bem comum dos indivíduos. Página 120 7. PROPOSTA DE SCHIMTZ: que as novas formas sociais consigam tornarem-se instituições, havendo um reconhecimento amplamente estruturado da sua necessidade de sua necessidade. Página 120 8.comunidade x instituição: • A própria comunidade pode atuar como instituição. Página 120 • Uma instituição pode consolidar um esquema comunitário. Página 120 • Uma comunidade pode lançar mão de instituições de forma a tornar mais vigorosos seus laços. Página 120 PROPOSTA: em nível local se podem realmente identificar com clareza as principais ações redistributivas. Página 121 9. poder local: está no centro do conjunto de transformações que envolvem a descentralização, a desburocratização e a participação, bem como as chamadas novas tecnologias urbanas. Página 123 Comunidade como unidade de gerencia e pressão 10.possibilidade comunitária: • Quer dizer não aceitar totalmente o ideal societário, no qual a globalização traz como lógica os princípios de hegemonia e exclusão. Página 123 • Significa continuar relacionando comunidade com projeto, não experiência, oposto à prerrogativa dominante de progresso e mundialização, mas presente desde sempre na história da humanidade. Página 124 11.pós-modernidade: inaugurou não apenas a descrença na eficiência das produções do sujeito, mas também a sua falência como centro produtor de verdade. Página 124 12.questao ecológica (Schmitz): tem sido capaz de promover uma ação coletiva em meio á generalizada fragmentação. Pagina 125 13.tres males que afetam a sociedade contemporânea (Taylor): • Perda de sentido e desaparecimento do horizonte moral. Página 125 • Racionalidade usada para conseguir a eficácia máxima. Página 125 • Perda da liberdade. Página 125 14.vasto movimento democrático (Taylor): única força capaz de fazer recuar a hegemonia galopante da razão instrumental. (...)propõe a descentralização do poder e a combinação das forças regional e planetária. Página 126 15. vivencia comunitária na sociedade atual: • Forma de gerenciamento da estrutura social(...). Reconhecimento da falência na concepção do progresso como condutor das produções sociais. Página 127 • EUA: privilegiam o comunitarismo como ordenamento da sociedade contemporânea. Página 127 • Estruturas onde são bem visíveis os conceitos de riqueza e pobreza. (...)nessas estruturas recorrer à estrutura comunitária significa reconhecer a situação, ativar o sentimento de agregação e a busca conjunta de soluções. Página 128 16.organizações: não são verdadeiros coletivos. São instrumentos para um fim. Página 128 Cooperativismo como formato possível 17. cooperativismo: grupamentos voluntários que valorizam a administração autônoma e avançam por áreas abandonadas pelo mercado e pelo Estado.página 129 • A crítica que esse formato tem recebido é que pode ser uma forma de o governo isentar-se de suas responsabilidades na área social. Página 130 • Conjunto de pessoas que podem ate ser diferentes, mas que possuem objetivos comuns e movidas por eles montam uma estrutura para tentar resolver parte de seus problemas. Página 134 CAPÍTULO 7: PERSPECTIVA COMUNICACIONAL No último CAPÍTULO, a autora vai analisar as particularidades dos meios de comunicação comunitária e sua ação na sociedade atual. Logo, enxerga na comunicação comunitária a preocupação com o comprometimento político que se configura como alternativa ao esvaziamento político do período de excesso informativo e esvaziamento de sentido da contemporaneidade. Assim, um veículo comunitário não somente presta serviços, prerrogativa e obrigação de todo veículo de comunicação, mas tem como foco a mobilização que suscite o exercício da cidadania de seus membros. Consubstancia-se a argumentação de Paiva com a ideia do processo de comunicação popular, que começa quando os grupos de mais baixo status deixam de fazer esforços para se comunicarem través da hierarquia das elites intermediárias ou dos meios públicos ordinários e estabelecem Seu próprio sistema de comunicação horizontal (PAIVA,2003,p.139). É necessário, entretanto, estabelecer o lugar da técnica, que possibilita o surgimento de meios comunitários, em oposição aos grupos de comunicação com interesse comercial disfarçados de meios comunitários. Há entretanto, uma preocupação da autora com a verticalização do discurso e com o afastamento do veículo da comunidade onde se instalou. Controlar esses fenômenos seria papel tanto do veículo quanto do agente externo de comunicação social, onde a comunicação pode ser o espaço por meio do qual pode ser formada a esfera pública(.) e onde a rede pode se constituir no paradigma da nova democracia (PAIVA,2003, P.168) 1.padronização do enfoque e a impregnação do consumo: propiciam, no esgotamento das formas, também a perspectiva de opções até então alijadas. Página 135 2. movimento seguinte ao caracterizado pelo monopólio dos conteúdos informativos: excesso informativo. (.)esvaziamento de sentido. Página 135 3.comunicação comunitária: • Comprometimento político. Página 136 • Jornalismo comunitário: elaborado por membros da comunidade que tentam através dele obter maior força política. Página 136 4. Agnes Heller e comunidade: a autora reconhece em qualquer grupo a capacidade de poder transformar-se em comunidade. Página 136 5.comunidade: onde vigoram o caráter cooperativo e a representatividade(...). Ação organizada de indivíduos que possuem ou estão sob condições comuns. Página 136 6. veículos comunitários: não são jornais de bairro. Página 136 • Surge como resposta prática às necessidades que tem a região de conhecer seus próprios problemas. Página 139 • O que caracteriza um veículo como comunitário não é sua capacidade de prestação de serviço, mas a proposta social, seu objetivo claro de mobilização vinculado ao exercício de cidadania. Página 140 • Veículo comunitário deve valorizar a cultura local. Página 145 • É preciso que seja gestão permanente da comunidade Perfil de veiculo comunitário 7. Fluxo informacional: elemento decisório para o exercício real da cidadania, além de imprescindível instrumento democrático. Página 138 • Na circulação de dados é possível compreender a realidade e dispor de recursos que permitam interferir no curso da história, alterando o cotidiano. Página 138 8. processo de comunicação popular: começa quando os grupos de mais baixo status deixam de fazer esforços para se comunicarem através da hierarquia das elites intermediárias ou dos meios públicos ordinários e estabelecem seu próprio sistema de comunicação horizontal. Página 139 9. função do comunicador social: profissional que pode estar alertado para o seu papel de agente social, capaz de promover e potencializar a articulação comunitária. Página 143 • Agente externo (jornalista): possui função(...), que pressupõe o compromisso político. Página 144 A questão técnica 12. democratizar a técnica: é um ponto que o grupo hegemônico tem a todo custo, evitado colocar em prática. Página 147 13.rádios livres: estão sempre vinculadas a uma ideia, a um grupo, à expressão de uma subjetividade, responsável por definir sua programação. Página 148 14.radio comunitária: bastante delimitada. Presta serviços para uma região específica. Página 148 15. zines: produzidos por grupos ou indivíduos que querem divulgar suas ideias. Página 148 16.sociodrama: partir de um gênero popularizado no Brasil que envolve as narrativas dramatizadas. Página 150 17.internet: percepção de que o sujeito possa transitar em mão dupla e não apenas recebendo passivamente as mensagens. Página 151 18.grileiros de ar: grupos com interesses francamente comerciais apenas travestidos de comunitários. Página 151 19.comunicação: desempenha papel forte no resgate do municipal. Página 154 20.crise urbana: esvaziamento do espaço de construção social. Página 154 • Surgimento de meios alternativos de expressão. Página 154 21. comunicação (Carrion): meio de acionar o municipal. Página 154 • O município deve ser acionado como totalidade. Página 155 • O município deve recuperar sua noção de proximidade. Página 155 22.veículo popular e discurso: qualquer veículo popular corre o risco de verticalizar o discurso(...). Passando a haver domínio de um grupo técnico mais preparado sobre a elaboração do discurso. Página 156 23.aspecto técnico: responde pela própria audiência. Página 157 • Movimentos populares: reconhecem que forma e conteúdo são importantes. Página 156 24.implantação de tv a cabo: para alguns, a terra prometida. Página 159 Comunicação comunitária na atualidade 25.Maffesoli e a internet: vai propiciar o nascimento de uma nova nação. Página 162 26.trocas da vida comunitária (De Kerklove): perdidas pelo homem, na medida em que aprendeu a ler e escrever. Página 162 27.virtualização da realidade: imersão na aldeia global implica no reconhecimento de que (...) a comunicação com os outros pode ser considerada como imediata e também oral. Página 164 28.interpretação: onde não existe interpretação não existe realidade. Página 164 29.cenario de superinformação em rede: há certa igualização, mas não é possível abrir mão da condição econômica onde emerge a globalização. Página 165 30.redes: formadoras de opinião. Página 166 Pode combater a verticalidade dos meios de comunicação de massa. Página 168 31.novas tecnologias: revisão no uso de veículos tradicionais. Página 167 32.comunicação: pode ser o espaço por meio do qual pode ser formada a esfera pública(.) e onde a rede pode se constituir no paradigma da nova democracia. Página 168 RESENHA A obra Espírito Comum, de Raquel Paiva, vai traçar um diálogo com autores das ciências sociais e a filosofia com o objetivo de compreender a experiência comum, que sintetiza as inúmeras relações entre sujeitos e sentido nas estruturas sociais humanas. Assim, o arquétipo da comunidade encontra-se fortalecido em uma época onde as tecnologias de comunicação encontram seu apogeu e constroem novas formas de vida, amparadas e potencializadas pelos fluxos midiáticos de informação e capital que Muniz Sodré definira como turbocapitalismo. Logo no inicio do texto, Paiva posiciona um afastamento da perspectiva rousseniana de comunidade, em que ha uma pulsão nostálgica e a visão de um ambiente imaculado. Apesar disso, a autora sugere que a comunidade concentra em si um poder de resgate da organicidade social e da solidariedade humana, que pode dialogar com as representações midiáticas, não somente no olhar crítico, mas nas alternativas que pode engendrar. Retomando Ferdinand Tonnies e os conceitos de Gemeinschaft e Geselshaft para pensar a comunidade como uma realidade concreta, Paiva debruça-se sobre a contemporaneidade midiatizada e capitalista por excelência para questionar se é possível vislumbrar na comunidade de consumidores resquícios da comunidade tradicional. No CAPÍTULO 1 a autora começa a desenhar o cenário de um mundo globalizado, ou seja, ordenado de acordo com as perspectivas do capital. Da mesma forma, Paiva afirma que os processos de globalização são indissociáveis dos de localização, uma vez que, as novas tecnologias podem sugerir agrupamentos diversos e muitos analistas econômicos começam a pensar na importância de valores como a confiança na estruturação e no fluxo de capitais. Localizando o mundo globalizando entre compradores e vendedores, a autora vai confrontar-se com o pensamento do autor argentino Nestor Canclini, que afirma ser o consumo uma forma de exercer a cidadania. Em contrário, Paiva sugere que a constituição de um ordenamento mercadológico do mundo, ou catalaxia, como conceitua Sodré, acentua um apartheid social e mascara as mazelas provocadas pelo sistema capitalista. Dessa forma, Paiva pontua que a atual configuração do trabalho provoca uma perda da possibilidade de pertencimento do sujeito em relação a seu grupo, restando-lhe o núcleo familiar como última microcomunidade. Nessa perspectiva Paiva dialoga com o pensamento de Frederic Engels para compreender as configurações de família, como base da estrutura social. Em conformidade com Engels, a autora caminha da família consanguínea, centrada nas relações de acúmulos de bens e riquezas, até a família contemporânea, construída sob a égide do afeto e desprovida da necessidade de contratos.Entretanto,enquanto minicomunidade o núcleo familiar continua sendo necessário, "porque além de compactuar com a instância produtiva,(...)administra também a atividade de consumo"(PAIVA,2003,p.42), em tempos e espaços pautados na atualidade pela lógica do capital .Nesse cenário, em que, segundo a autora, o social se esvanece, a comunicação converte-se em estratégia de produção de hiper realidade, orquestrada pela mídia(ibdem,p.44). Dialogando com os pressupostos teóricos freudianos, Paiva sugere que a histeria poderia fornecer formas de leitura do discurso midiático, onde cada formação econômica definira uma neurose específica e a erotização da mídia aproximar-se-ia com a das formas histéricas. Por esse motivo Paiva reforça a importância das ideias de comunidade no Ocidente, frequentemente associadas a um mundo melhor e a importância das narrativas comunais, em que interpretações e releituras são selecionadas, determinando o espírito da comunidade. Logo, se os meios de comunicação estão inseridos na realidade cotidiana, através do que Todd Gitlin chamara de saturação midiática e Sodré de bios midiatizado e onde o Estado age no papel de gerenciador técnico do capital, a hipótese da autora concentra-se em pensar em alternativas contrarias A ordem vigente, possibilitadas pela própria estrutura social. No CAPÍTULO 2, a partir das diversas noções e conceitos de comunidade a autora pretende desenhar as possibilidades de aplicação da perspectiva comunal na vida atual. De fato, Paiva critica em todas as concepções a ideia de comunidade como "imaginária, mais do que um conceito que se possa usar operativamente"(PAIVA,2003,p.68).Assim,a autora norteia os conceitos de comunidade na perspectiva psicológica, onde se caracteriza por sentimentos de solidariedade, chegando até o olhar sociológico,localizando a comunidade como menor grupo social. Dialogando novamente com Hobbes,que localiza a ideia de sociedade sucedendo a de comunidade, Paiva vai compreender com Tonnies o que vem a ser comunidade como as questões da família e da propriedade de terra. Logo, evidenciam-se as imbricações entre território e relação na sociedade, onde observam que as identificações se pautam pela afetividade e proximidade, necessários para a união de uma civilização. É esta mesma civilização contemporânea que a autora compreende como afetada pela excessiva mobilidade e a prevalência da vontade e os interesses individuais. Nessa perspectiva, onde a contemporaneidade dissolver valores sociais, a autora compreende que sociedade e comunidade podem coexistir, agindo sobre a vida do homem contemporâneo e propõe que a reestruturação de um grupo social passe por bases comunitárias de atuação. No CAPÍTULO 3, Raquel Paiva vai falar sobre a relação entre o sujeito e o outro, compreendendo que o homem vive mais na comunidade do que em sua individualidade. O outro, para a autora, estrutura a personalidade e o inconsciente do sujeito, constituindo o ser em comum, responsável pela linguagem. Em igual medida, Paiva recorre ao conceito de clinamen, de Epicuro, para pensar a relação do sujeito em comunidade. Assim como dois átomos em queda livre que se chocam, alteram a trajetória um do outro, a comunidade seria para autora o clinamen do indivíduo, alterando-o e constituindo sua existência em relação ao outro. Paiva ressalta que o estar junto não seria definido pela proximidade, mas por “uma atitude reciproca de interioridade (PAIVA,2003,p.85)”. Dessa forma, a religião seria a instância com a função por excelência de promover a comunhão entre os indivíduos, que partilham da mesma existência, reconhecendo-se na vida do outro, não só pelo efeito aglutinador do cotidiano, mas pela percepção do existir na relação do ser em comum. Já no CAPÍTULO 4, Paiva vai recorrer a diversos autores para compreender as trocas simbólicas entre os sujeitos e as transformações pelas quais passam essas trocas, na ascensão da sociedade, em substituição a comunidade. Identificando a língua como o elo concreto que define um grupo e que confere estatuto de realidade a este grupo, Paiva dialoga com Karl-Otto Apel para compreender os âmbitos da ação humana, que são a família política internacional e os interesses vitais à humanidade. Assim, a autora localiza a civilização cientifico-técnica, como afastada da tradição moral do grupo, rompendo com a vida em comunidade tonniesiana onde posse prazer, bens e males são comuns e ligados ao território e à família. Na passagem da comunidade à sociedade, o trabalho, que antes era ligado à herança familiar, torna-se fruto do gosto individual e o sentimento de pertencer dá lugar ao descomprometimento. Entretanto a autora não enxerga um fim nas perspectivas comunitárias da atualidade,observando, em diálogo com Olivetti, que o desenvolvimento da sociedade "pode permitir o nascimento do interesse comum de ordem moral e material entre os homens(...) a partir da comunidade de interesses"(PAIVA,2003,P.100) firmada através das trocas simbólicas que suscitem a consciência do ser em grupo, a qual, segundo Cassiano, constitui a ordem social. No CAPÍTULO 5, a autora vai compreender as formas de união dos sujeitos, compreendendo o estabelecimento de veículos como uma forma de gerar o pertencimento que constitui a comunidade. Dessa forma Paiva aproxima-se do pensamento freudiano sobre os regulamentos da civilização para identificar na comunidade um mecanismo do homem para se proteger contra a dor. Em outro diálogo com Scheleirmacher, Paiva observa a diferença entre a sociedade e a comunidade através da concepção de filhos do mundo, que são envolvidos com o trabalho organizado e centrados em si mesmos (sociedade) e os filhos do espírito(comunidade)preocupados em estabelecer vínculos profundos. Assim, os vínculos seriam os fundadores da comunidade, bem como a linguagem e a leia partir da apropriação do espaço tempo pelo grupo, o real poderia ser formulado a partir da vontade destes sujeitos em comum. Apesar de visualizar esse objetivo com os pressupostos teóricos de Marx, Raquel Paiva ressalta que o filósofo alemão não engrossa o coro dos que creem na comunidade como momento histórico(...) ou como estrutura social justa” (PAIVA,2003,p.112)”.Em contrário, associa-a a sociedade feudal, localismos e a uma forma societal idílica que tem servido ao despotismo. No sexto CAPÍTULO, Raquel Paiva vai consolidar o conceito de comunidade, atuando em conjunto com o modelo societal. Identificando na época atual a debilidade do poder público, o aumento do desemprego e a consumo como estrutura estruturante no cenário social, a autora vai pontuar o surgimento de instituições intermediárias, que se localizam entre as instituições políticas e a sociedade civil. Nessa perspectiva, Paiva dialoga com Schimtz para construir uma visão sobre as instituições, como entidades que asseguram o bem comum dos indivíduos. Atuando nas comunidades, as instituições podem auxiliar a consolidação e no fortalecimento dos laços comunitários. Dessa forma, reconhece-se o poder local como movimento democrático que está no centro de transformações que envolvem maior participação e desburocratização, confrontando-se com o ideal societário globalizado e seus princípios de hegemonia e exclusão. Nessa perspectiva a autora aponta para o formato cooperativista como instrumento capaz de valorizar e auxiliar áreas abandonadas pelo mercado e Estado. Apesar de reconhecer a eficácia deste modelo, Paiva ressalta que esta pode ser uma forma do governo isentar-se de suas responsabilidades na área social. No último CAPÍTULO, a autora vai analisar as particularidades dos meios de comunicação comunitária e sua ação na sociedade atual. Logo, enxerga na comunicação comunitária a preocupação com o comprometimento político que se configura como alternativa ao esvaziamento político do período de excesso informativo e esvaziamento de sentido da contemporaneidade. Assim, um veículo comunitário não somente presta serviços, prerrogativa e obrigação de todo veículo de comunicação, mas tem como foco a mobilização que suscite o exercício da cidadania de seus membros. Consubstancia-se a argumentação de Paiva com a ideia do processo de comunicação popular, que começa quando os grupos de mais baixo status deixam de fazer esforços para se comunicarem través da hierarquia das elites intermediárias ou dos meios públicos ordinários e estabelecem Seu próprio sistema de comunicação horizontal (PAIVA, 2003, p.139) É necessário, entretanto, estabelecer o lugar da técnica, que possibilita o surgimento de meios comunitários, em oposição aos grupos de comunicação com interesse comercial disfarçados de meios comunitários. Há, entretanto, uma preocupação da autora com a verticalização do discurso e com o afastamento do veiculo da comunidade onde se instalou. Controlar esses fenômenos seria papel tanto do veiculo quanto do agente externo de comunicação social, onde a comunicação pode ser o espaço por meio do qual pode ser formada a esfera pública (...) e onde a rede pode se constituir no paradigma da nova democracia (PAIVA, 2003, P.168).

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Fichamento elogio da razão sensível-Michel Maffesoli

MAFFESOLI, M . Elogio da razão sensível. Petrópolis: Vozes, 1998.


No primeiro capítulo, o autor conceitua o itinerário a ser percorrido, ao falar de um saber sensível como método, ou seja, Maffesoli propõe o que denomina uma sociologia "da caricia” (1998, p.22) que substitui a representação racional das coisas por uma contemplação apaixonada do mundo. O sensível seria assim parte integrante do mundo, modo de compreender e principalmente vivenciar os fenômenos sociais. É possível aproximar-se de uma metáfora(que posteriormente será observada sob o foco maffesoliano) presente na musica de Vinicius de Moraes e toquinho " a vida tem sempre razão", ao dizerem "que nada adianta postar-se de fora".Assim como Maffesoli irá valorizar a forma e o pensar interno,coletivo,da experiência social,a experiência com o CPT deve ser verificada do lado de dentro, por seus participantes,através dos relatos presentes nas entrevistas realizadas.Somente assim , para o autor e para este estudo, é possível tangenciar a experiência sensível em sua totalidade e distintas nuances.

I-DEONTOLOGIA • Sabedoria relativista: Quando já não se tem quaisquer garantias, ideológicas, religiosas, institucionais, políticas, talvez seja preciso saber apostar na sabedoria relativista. Esta “sabe”, por um saber incorporado, que nada é absoluto, que não há verdade geral, mas que todas as verdades parciais podem entrar em relação umas com as outras. P.11
• Sensibilidade generosa, que não se choque ou espante com nada, mas que seja capaz de compreender o crescimento específico e a vitalidade própria de cada coisa. P.12
• O saber ligado à “razão instrumental”: é um saber ligado ao poder. P14
• Apego ao ordinário: É estando desapegado em relação aos diversos ideais impositivos e universais, é estando enraizado no ordinário, que o conhecimento responde melhor à sua vocação: a libido sciendi. Por que não dizer: um saber erótico que ama o mundo que descreve. Assim, pela purgação do geral, da verdade, daquilo que é tido como correto, pode encarar-se o plausível e os possíveis das situações humanas. P.14
• Temática do sensível: bem poderia ser a marca da pós-modernidade. P.18
• Proposta metodológica: propus pôr em ação um pensamento de acompanhamento, uma “metanóia” (que pensa ao lado), por oposição à “paranoia” (que pensa de um modo impositivo) próprio da modernidade. Algo como uma sociologia da carícia, sem mais nada a ver com o arranhão conceptual. P.22
• Representação x apresentação: substituição da representação pela apresentação das coisas. p.23
• Apresentação das coisas: se contenta em deixar ser aquilo que é, e se empenha em fazer sobressair a riqueza, o dinamismo e a vitalidade deste “mundo-aí”. p.24
• Criação do mundo: interação entre a criação social e a de um autor. E aquele que estiver atento à beleza do mundo, às suas expressões específicas, participa do esforço criativo deste. p.24
• A elevação do sensível ao inteligível: Entendendo-se que tal “elevação” reconhece o sensível como parte integrante da natureza humana e, evidentemente, os efeitos sociais que isso pressupõe. p.27
• Maravilhar-se: É na dor e no sangue que se nasce para a existência. Mas é no maravilhar-se que é possível, bem ou mal, ir vivendo. É integrando tudo isso que se saberá ser o menos infiel possível à efervescência existencial característica da socialidade Contemporânea. p.29
II A Razão abstrata

Ao tentar compreender a razão abstrata, o autor efetua uma cisão entre o pensamento moderno, focado na separação e o pensamento erótico, contemporâneo, que observa amorosamente “a vida em sua integralidade” (1998 p.60). Logo, entender que a observação do social não deve ser feita "do lado de fora”, mas por intelectuais orgânicos, como pensara anteriormente Gramsci, intrinsecamente imbricados com os fenômenos sociais. a razão não deve vir assim, a priori,mas será uma consequência posteriori da contemplação sensível do mundo,feita de empatia e sensibilidade com que se pode experimentar e observar o mundo.O cotidiano contemporâneo estaria dessa forma formado de socialidade,a qual
Por um lado, está impregnada de comunicação verbal, a partir da qual é possível elaborar algumas leis gerais, mas, por outro lado, comporta também aquilo que chamamos de comunicação não verbal, coisa bem delicada de apreender com precisão. É o domínio do sensível (MAFFESOLI, 1998, p.60).
• Sobre o desenvolvimento cientifico: à barbárie artesanal dos séculos anteriores sucede a sofisticação dos meios propiciados pelo avanço tecnológico e pelo desenvolvimento científico. p.34
• Vida: vida é um movimento perpétuo onde se exprime a União dos contrários. p.37
• Crítica ao nacionalismo: o que está, essencialmente, em questão no nacionalismo é bem isto: um extraordinário fechamento sobre si mesmo, uma energia que é dispensada e empregada de maneira unicamente interna. p40
• O trabalho da razão é um perpétuo recomeço, que em nada se pode enclausurar a realidade, esta que sempre está em vantagem sobre o pensamento que dela se pode ter. p.47
Diálogo: Edgar Morin e o pensamento ecológico. p.48
• A sociedade contemporânea:
1. Pelo próprio fato de estar apegada ao cotidiano, à “proxemia”, não consegue mais acomodar-se a uma divisão estrita entre aquilo que seria da ordem da razão, e aquilo que pertenceria à da paixão. p.50
2. Identidades, classes, categorias socioprofissionais, filiações partidárias, ideológicas ou religiosas, tudo isso tende, progressivamente, a dar lugar a um vasto sincretismo de contornos pouco delimitados, onde cada qual é chamado a desempenhar papéis diversos, no jogo sem fim das aparências. p.52
• Sobre separação (pensamento moderno):
1. Freud: o poder separador que constitui a arma essencial do pesquisador, esse “cavaleiro do ódio”. p.53
2. De Adorno, passando por Durkheim, uma mesma sensibilidade se exprime: a da separação, a de uma razão abstrata que não consegue, não sabe, perceber as afinidades profundas, as sutis e complexas correspondências que constituem a existência natural e social. p.60
• Esquecimento progressivo do pensamento “erótico”: isto é, de um pensamento amoroso da vida em sua integralidade, tende a favorecer uma atitude normativa e justificativa. p.62
• Intelectuais orgânicos:Cada sociedade precisa de intelectuais orgânicos e não unicamente de intelectuais críticos, ou partidários do statu quo. É quando esse pólo orgânico vem a faltar que se entra num processo de decadência, isto é, de incapacidade, para um dado corpo, de ajustar sua maneira de ser e seu modo de pensar. p.63(conexão com Gramsci)
• Razão e compreensão:
Mais do que uma razão a priori, convém pôr em ação uma compreensão a posteriori, que se apoie sobre uma descrição. • Rigorosa feita de conivência e de empatia (Einfühlung). Esta última, em particular, é de capital. p.66 • Vida: A vida não se deixa enclausurar. p.67
• Ciência: a ciência não é senão a cristalização de um “saber disperso na vida, através do mundo cotidiano”. p.67
Socialidade: Esta, por um lado, está impregnada de comunicação verbal, a partir da qual é possível elaborar algumas leis gerais, mas, por outro lado, comporta também aquilo que chamamos de comunicação não verbal, coisa bem delicada de apreender com precisão. É o domínio do sensível. p.69
III A razão interna

Mas o que seria afinal a razão sensível, interna ao sujeito e que perpassa o corpo social, formando-o?Para o autor a razão sensível seria da ordem do afeto, ou "alavanca metodológica que pode” servir à reflexão epistemológica, e são plenamente operatórias para explicar os múltiplos fenômenos sociais, que, sem isso, permaneceriam totalmente incompreensíveis.(MAFFESOLI,1998, p.72).Este é o ponto e onde partir para compreender o fenômeno em sua essência,permitindo chegar até o que o autor denomina o "grund", a razão interna,que expressa uma cultura ou um conjunto de fenômenos sociais historicamente localizado.Toda análise social deve fundamentar-se na busca do "procurar o fundamento, e não a simples causa, de todo ato, de toda representação, de todo fenômeno, a fim de perceber-lhe a razão interna, ainda que esta deva contrapor-se à razão funcional ou instrumental à qual nos habituamos. "(MAFFESOLI,1998, p.86).Dessa forma, as razoes de um fenômeno como o CPT por exemplo, consistem não somente na observação externa dos fenômenos,mas no mergulho nas experiências vivenciadas, na lógica interna dos fenômenos e dos sujeitos em interação e na matéria que forma a própria comunidade de aprendizagem. Sem tocar minimamente nesta essência, torna-se impossível descrever a contento o objeto escolhido.
• O afeto:O afeto, o emocional, o afetual, coisas que são da ordem da paixão, não estão mais separados em um domínio à parte, bem confinados na esfera da vida privada, não são mais unicamente explicáveis a partir de categorias psicológicas, mas vão tornar-se alavancas metodológicas que podem servir à reflexão epistemológica, e são plenamente operatórias para explicar os múltiplos fenômenos sociais, que, sem isso, permaneceriam totalmente incompreensíveis. p.72
• “ideias força”: elas percebem o estado nascente dos fenômenos sociais em sua globalidade. p.80
• Razão interna: Pequena razão própria causa e efeito de um compartilhamento de valores entre alguns poucos. Nesse sentido, a razão interna é a expressão de uma cultura específica. p.81
• Razão e sentimento: O próprio das emoções, dos sentimentos, das culturas comuns, é que eles repousam numa vida compartilhada; todo o trabalho intelectual consistindo, portanto, em perceber a vida que os anima. Entendendo-se que essa vida tem suas razões que, com muita frequência, a razão desconhece, ou não deseja conhecer. p.82
• Análise social: Procurar o fundamento, e não a simples causa, de todo ato, de toda representação, de todo fenômeno, a fim de perceber-lhe a razão interna, ainda que esta deva contrapor-se à razão funcional ou instrumental à qual nos habituamos. p.86
Grund: fundamento, razão interna; p.88.
• Raciovitalismo:uma entidade, seja ela qual for, encontra sua razão de ser em si mesma, é causa e efeito de si mesma, é seu próprio fundamento (Grund). p.89 • Matéria e alma:“Pela matéria, em cada um de nós, é parcialmente a história inteira do Mundo que é repercutida. Por mais autônoma que seja a nossa alma, ela herda uma existência que foi prodigiosamente trabalhada, antes dela, pelo conjunto de todas as energias terrestres”. p.90
• Raízes de uma comunidade: As raízes de um ser, e as de uma comunidade, são uma mistura de passado, presente e futuro, mas não podem ser compreendidas de um modo externo; é preciso ir buscar sua lógica no próprio interior das mesmas, sob pena de obter uma visão abstrata desencarnada e, de cada vez, superficial. p.90(USAR NA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM)
• Convergência:O mundo das formas, o mundo da forma, apanágio do poeta, não faz mais do que cristalizar o que se poderia chamar de desejo de unicidade que anima todas as coisas. Para além da fragmentação, inerente à vida mundana, há uma aspiração à convergência que a exigência poética personifica com perfeição. p.98
• Todo:O todo, por mais paradoxal que isso possa parecer, é bem anterior às partes que o compõem. E o que é mais importante: a compreensão das partes nos é, antes de mais nada, dada pelo todo”. p.104. • O “raciovitalismo”: reconhece um ponto de vista epistemológico das correspondências existenciais que marcam a vida do dia-a-dia. p111
IV Do Formismo

Como proposta de vislumbrar a face dos fatos sociais, Maffesoli propõe o conceito de forma como parte fundamental das sociedades, matriz que gera os fenômenos sociais na cultura pos-moderna. a forma,para o autor "é fazedora de sociedade" (MAFFESOLI,1998,p.122).A forma é cheia de dúvidas,contenta-se em apresentar e não prima pela separação racionalista do objeto como meio de compreendê-lo. Em contrário.Parece-nos que,na lógica da razão sensível, meramente desenha a forma social ,apresentando-lhe a essência,diante da qual o pesquisador deve se postar com o olhar sensível, deixando-se penetrar de suas nuances,para poder compreender mais intimamente o fenômeno pretendido.Para isto,o autor se aproxima do conceito yunguiano de arquétipo:
Eis o que a forma arquetípica pode nos ajudar a compreender: há resíduos arcaicos, imagens primordiais que fazem com que a vida seja o que é que a modelam enquanto tal e por aquilo que ela é. (MAFFESOLI,1998,p.149)
Neste conceito, há, em diálogo com o francês, um caminho a seguir, de modo a compreender a integração humana, a forma como os sujeitos se relacionam e a essência deste conjunto que se convencionou chamar humanidade, conjunto de sonhos coletivos, dos mitos e dos arquétipos que integra o sujeito "em um conjunto mais amplo do qual ele é parte integrante. (idem, ibidem, p.152).
• Sociedade e imagem: nossas sociedades são animadas, de modo orgânico, pelo jogo das imagens. p.115
• A forma: 1. é de fato a matriz que gera todos os fenômenos estéticos que delimitam a cultura pós-moderna. p.118
2. Forma: sem deixar de valorizar o corpo, as imagens, a aparência, ela é “formante”, isto é, ela forma o corpo social; em outras palavras, ela é fazedora de sociedade. p.122
3. A forma, ou a sua expressão filosófica – o formismo –contenta-se em levantar problemas, fornecendo “condições de possibilidade” para responder a eles caso a caso e não de maneira abstrata. É nesse sentido que a forma é cheia de dúvidas, e faz destas uma força inegável no processo de conhecimento. p.126
4. Essência na forma: sou a partir de uma essência – eu diria uma forma – que a vida pode existir, e que se pode pensá-la. p.128
5. A forma agrega, agrupa, modela uma unicidade, deixando a cada elemento sua própria autonomia, sem deixar de constituir uma inegável organicidade. p131
• Unicidade. Esta, por oposição à unidade que exclui, mantém, de maneira contraditória, a coesão de todos os elementos fragmentados do dado mundano. p.121
• Arquétipos: arquétipos:
1. importa agora apreciar-lhes as consequências sociais. P.148
2. Eis o que a forma arquetípica pode nos ajudar a compreender: há Resíduos arcaicos, imagens primordiais que fazem com que a vida seja o que é que a modelam enquanto tal e por aquilo que ela é. p.149
3. Através dos sonhos coletivos, dos mitos e dos arquétipos, é toda a pré-história da humanidade que continua a exprimir-se. Trata-se de algo de transpessoal, que ultrapassa cada indivíduo e que o integra em um conjunto mais amplo do qual ele é parte integrante. p.152
• A força da forma: impondo uma emoção coletiva ela orienta as vontades individuais e assim, “faz” sociedade. p.153
• Bildung: A Bildung designa igualmente a abertura à graça divina, isto é, uma iniciação que nos leva a participar da plenitude da perfeição. P.154
• Indivíduo x pessoa:Indivíduo, que possui uma identidade precisa, faz sua própria história e participa, pelo contato com outros indivíduos, da história geral, e pessoa, que tem identificações múltiplas no âmbito de uma teatralidade global. O indivíduo tem uma função racional, a pessoa desempenha papéis emocionais. P.160
V Fenomenologia

Detalhando seu processo metodológico, Maffesoli recorre à fenomenologia como outro modo de pensar o mundo, unindo a razão instrumental à razão sensível, que opõe o "porque" moderno ao "como” pós-moderno, que não fala pelo objeto, mas através dele, dialogando intelecto x alma. è preciso neste dialogar,dar a devida importância a intuição, como a percepção individual de um saber coletivo,cotidiano,que advém de uma interação entre os sujeitos no mundo,ou " “saber incorporado” que, em cada grupo social e,portanto, em cada indivíduo, constitui-se(MAFFESOLI,1998,p.194) como vinculo.esta ligação não será somente racional,mas também não lógica,daí a importância da intuição e da metáfora. esta ultima é para o autor
É um instrumento privilegiado, pois, contentando-se com descrever aquilo que é, buscando a lógica interna que move as coisas e as pessoas, reconhecendo a parcela de imaginário que as impregna, ela leva em conta o “dado”, reconhece-o como tal e respeita suas Coibições”. (idem,ibidem, p.232)
São as imagens construídas de imaginário e experiências individuais que vão descrever os fenômenos sociais e permitir a compreensão de sua razão interna e de seu sentido. Aqui cabe mais uma vez ilustrar o raciocínio com o exemplo do filme "o carteiro e o poeta", na sequencia em que o personagem que representa o poeta Pablo Neruda ensina o carteiro sobre a importância da metáfora na observação do mundo.ante o olhar maravilhado do seu interlocutor enquanto os dois contemplam uma praia, "Neruda " define a metáfora como a substancia a partir da qual é possível escrever poesias.mais do que isso, compreender o mundo .parece-nos ser esta cena muito representativa do método maffesoliano: através da imagem percebida do cotidiano,do que se observa ao redor,é possível sensibilizar-se e iniciar um caminho me busca da percepção acerca de si e do mundo.são as imagens construídas não somente pela visão,mas pela sensibilidade constituída pelo sujeito e pelo imaginário coletivo que o percebem as componentes fundamentais segundo as quais é possível tanto escrever uma poesia quanto realizar uma pesquisa social,sendo ao mesmo tempo "transporte” do sentido" e mobilizadora da energia social.
• Feminização do mundo:o retorno de outro modo de referir-se ao mundo, de outra maneira de ver a criação. Algo que não tenha a brutalidade da razão instrumental,mas se contente com acompanhar aquilo que cresce lentamente em função de uma razão interna. P.171
• Modus operandi fenomenológico: O fenômeno faz sentido em si mesmo, não precisa ser relacionado a um além de si. Mesmo, qualquer que seja: profano, religioso ou político. p173
• Em vez do porque o como: “como”, o que quer dizer que este é vetor de conhecimento, conhecimento tanto mais primordial por apresentar coisas que são como elas são. p176
• Intelecto x alma: De preferência ao exercício de um intelecto que está sempre a se dizer não, é preciso saber pôr em jogo as molas de uma alma que esteja em correspondência com a alma do mundo. P.180
• Descrição do objeto social: Como observa Ernst Jünger,“não se fala do objeto, mas sim através dele”. P.187
• As ciências sociais: não fazem,propriamente falando, descobertas. A sociologia bem compreendida visa, em vez disso, aprofundar a compreensão de fenômenos que muitos já conhecem”. P.193
• Intuição:
1. É oriunda de um tipo de sedimentação da experiência ancestral, que ela exprime o que propus chamar de “saber incorporado” que, em cada grupo social e, portanto, em cada indivíduo, constitui-se sem que se dê-lhe muita atenção. P.194-195
2. É isto que constitui o próprio da intuição ativa: perceber em toda a sua concretude os valores cotidianos que partilhamos, com outros, no âmbito de um ideal comunitário. p223
• Sentido: o sentido não é imposto do exterior, mas, isto sim,procede de uma verdadeira interação entre o quadro e o observador. p.230
• Vínculo social: O vínculo social não é mais unicamente contratual, racional,simplesmente utilitário ou funcional, mas que integra uma boa parte de não-racional, de não lógico, e exprime isso em efervescências de toda ordem que Podem ser ritualizadas (esporte, música, canto) ou, de modo mais geral são totalmente espontâneas. P.205
• Estética: Deve-se entender estética,aqui, em seu sentido mais simples: vibrar em comum, sentir em uníssono, experimentar coletivamente coisas que permitem a cada um, movido pelo ideal comunitário, sentir-se deste mundo e em casa neste. Mundo. P.207 • Razão:a razão, não importa o que pensem os defensores do nacionalismo é construída a partir de uma intuição inteligente.p212 • a metáfora: 1. é um instrumento privilegiado, pois, contentando-se com descrever aquilo que é, buscando a lógica interna que move as coisas e as pessoas, reconhecendo a parcela de imaginário que as impregna, ela leva em conta o “dado”, reconhece-o como tal e respeita suas Coibições.p.232 (no texto,fazer referencia ao filme carteiro e o poeta,quando Neruda ensina o carteiro o poder da metáfora)
2. pelas imagens, aquilo que descreve, o sociólogo vai, pela utilização das metáforas, fazer sobressair à vitalidade e a dinâmica do vivente.p238
3. Ao mesmo tempo em que o jogo das imagens transporta a emoção coletiva e o prazer dos sentidos, a metáfora, tomada em seu sentido etimológico, permite compreender o “transporte” do sentido. Ela exerce, assim, o mesmo papel que o ritual nas sociedades primitivas: o de mobilizar a energia social.p240
V A experiência • Senso comum: 1. algo que tem sua validade em si, como uma maneira de ser e de pensar que basta a si própria e que não carece, quanto a isso, de nenhum mundo preconcebido, fosse qual fosse, que lhe desse sentido e respeitabilidade.A intuição e o uso da metáfora são, justamente,expressões desse senso comum. Empenham-se em ultrapassar as mediações para alcançar, diretamente, o próprio coração das coisas.p.246
2. O senso comum está fundado aí. Ele põe em jogo, de modo global, os cinco sentidos do humano, sem hierarquizá-los, e sem submetê-los à preeminência do espírito.p247
3. o senso comum é a expressão de um presenteísmo que serve de pivô entre passado e futuro. Dei a isso o nome de “enraizamento dinâmico.p251
4. senso comum, que é totalmente estranho à compartimentação ou, ainda, ao recorte da realidade em rodelas.p255
5. É esse inconsciente coletivo, cujo descrédito ainda é de bom tom proclamar, que constitui a ossatura do senso comum. Ele é como um tipo de substrato mítico que transpira, de diversas maneiras, por todos os poros do corpo social. Ele constitui a experiência do vivente que se enraíza longe na memória da humanidade.p.261
6. Tipo de “buraco negro” onde se concentra uma energia social que escapa às diversas imposições políticas, econômicas e morais que são o próprio do poder. É assim que o senso comum pode ser visto como uma forma de resistência que assegura o perdurar societal na longa duração.p264
• os pequenos rituais cotidianos: confortam o sentimento de pertença, a impressão de fazer parte de uma comunidade.p269
• saber de “tipo Sul”:Um saber que não violenta, de modo prometéico, o mundo social e natural, que não conceituaria, sem precauções, aquilo que é observado, mas, ao contrário, que se contenta em levar em conta, de um modo acariciaste, o dado mundano enquanto tal.p.246
• vida social: a vida social é fundamentalmente politeísta; quaisquer que sejam as diversas legitimações ou racionalizações de que se sirva, ou com as quais seja guarnecida, sua prática é, antes de mais nada, plural.p257
• o pensamento orgânico:saber incorporado que, de geração em geração, vai constituir um substrato que assegura a perduração societal.p251-252
• sociologia: as grandes obras sociológicas ou antropológicas são, justamente, aquelas que atentam para o aspecto concreto e empírico da existência. É assim que podem ser compreendidas as diversas interações que constituem a trama da vida.p.254 Obs:todo o saber é fundado no ser pensante.
• concreto e socialidade: o concreto constitui o terriço, o solo nutriente de toda socialidade.p.255
• a vivência :não é assunto individual.p.270
3. A vivência Logo,é preciso voltar à face da ciência novamente ao senso comum, como expressão do presente,que "põe em jogo, de modo global, os cinco sentidos do humano, sem hierarquizá-los, e sem submetê-los à preeminência do espírito.” (MAFFESOLI, 1998, p.247),inconsciente coletivo que traz no plural da humanidade,repositório dos rituais cotidianos que constituem o ser em comum,cuja vida não é apenas individual,mas coletiva.ater-se a vivencia,ao cotidiano e ao senso comum é,para o autor: “É recusar a separação, o famoso “corte epistemológico” que supostamente marcava a qualidade científica de uma reflexão. É, por fim, reconhecer que, assim como a paixão está em ação na vida social, também tem seu lugar na análise que pretende compreender esta última.p272
A observação sociológica deve fundamentalmente "referir-se à vivência daqueles que são seus protagonistas de base, do que às teorias codificadas que indicam, a priori, o que esse fenômeno é ou deve ser.p.283.baseada neste fato,foi feita a escolha por dar voz aos que experienciaram as oficinas do CPT como modo de dar vida ao fenômeno através dos que vivenciaram-no.Da mesma forma era impossível analisar o fenômeno sem extrair minha própria experiência com o lugar e com as pessoas envolvidas no projeto,como modo de colocar também na analise minhas próprias vivencias com o projeto,na observação mas também na fruição. segundo Maffesoli " Não é possível mover as coisas, a não ser estando-se, de modo orgânico, ligado à própria natureza das mesmas.p.301
• Ater-se a vivência:É recusar a separação, o famoso “corte epistemológico” que supostamente marcava a qualidade científica de uma reflexão. É, por fim, reconhecer que, assim como a paixão está em ação na vida social, também tem seu lugar na análise que pretende compreender esta última.p.272
• “sociosofia”, : uma disciplina que saiba integrar e compreender a “mística do estar-junto”.p272
• busca da vida: “procuremos a vida onde a vida está”, isto é, não nos códigos mortíferos das diversas instituições, mas na agregação comunitária que é sua causa e efeito.p.281
• método e justificativa: para perceber
a especificidade e a novidade de um fenômeno social, convém mais referir-se à vivência daqueles que são seus protagonistas de base, do que às teorias codificadas que indicam, a priori, o que esse fenômeno é ou deve ser.p.283(POR ISSO,ESCOLHI USAR OS RELATOS ATRAVÉS DOS FORMULARIOS E ENTREVISTAS)
• corpo social: o corpo social repousa, antes de mais nada, sobre a colocação dos corpos individuais em relação, e, igualmente, sobre o fato de que essa colocação dos corpos em relação secreta uma aura específica, um imaginário específico que é o cimento essencial de toda vida em sociedade.p.287
• vivência:Deixando fluir a metáfora, pode-se dizer que é a vivência que, em suas formas paroxísmicas, irradia as diversas manifestações da existência do dia-a-dia.p.290
VII A iluminação pelos sentidos • A verdadeira vida :não esta mais no saber e poder.p295(citação indireta)
• Experiência dos sentidos: existe uma dialética entre o conhecimento e a experiência dos sentidos. Mas, à diferença do “sensualismo” do século XIX, tal dialética não é apenas um processo individual, mas tem uma forte carga social.p.297
• a perda do senso estético : um erro epistemológico.p.298
• Saber “dionisíaco” :é aquele que reconhece essa ambiência emocional, descreve seus contornos, participando, assim, de uma hermenêutica social que desperta em cada um de nós o sentido que ficou sedimentado na memória coletiva.p299
• ensinar e fruir: Ensinar e fruir são os motores da compreensão e da ação. Não é possível mover as coisas, a não ser estando-se, de modo orgânico, ligado à própria natureza das mesmas.p.301
• a experiência sensível espontânea :é a marca da vida- cotidiana.p.304

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Ordem do Discurso

FOUCAULT, Michel - Loyola: São Paulo, 2002

Na obra A Ordem do Discurso, Foucault lembra que o discurso é material e por ser construído, tem perigos e poderes.  Como ele pode ser utilizado de maneira violenta, colocando significações prévias, o autor prevê modos de organizar este discurso através de classificações e delimitações, que são:
 procedimentos internos, procedimentos externos  e sistema de restrição.

Os procedimentos internos são três: comentário, o autor e a disciplina. O comentário é aquele presente nos textos e conjuntos ritualizados de discursos que se narram. Como tal  pode já ter sido dito, permanece dito ou ainda estão por se dizer. Neste aspecto, Foucault reconhece os comentários como parte do sistema de cultura,  como os texto religiosos, científicos e literários. O autor existe como princípio do agrupamento do discurso, e portanto não é o autor de uma matéria e sim o local onde pode se originar os diversos discursos. A disciplina é vista como um conjunto de métodos, que tem uma série de proposições verdeiras e falsas.


Os procedimentos externos são os processos de exclusão: Interdição, rejeição e rejeição do discurso, estabelecidos respectivamente pela palavra proibida, segregação da loucura e a vontade de verdade. Para Foucault, o procedimento mais utilizado e familiar é o da interdição de discurso, porque é onde existe as figuras do tabu do objeto, ritual da circunstância e o direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala . Nesta perspectiva, não são todos que podem falar (direito privilegiado); nem tudo pode ser falado (tabu do objeto), que não se pode falar tudo em qualquer circunstância (ritual da circunstância):  “Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um não pode falar de qualquer coisa” (FOUCAULT,  2002, p.9).

A segregação da loucura é realizada na proibição do discurso do louco, neste contexto há uma rejeição do discurso entre a razão e a loucura, ou seja, o que não pode ser explicado racionalmente é separado.  A vontade da verdade é um dodo do discurso justificar certas práticas.

Os sistemas de restrição são o terceiro grupo de procedimentos que permitem o controle do discurso : os indivíduos devem seguir um certo número de regras para ter acesso a determinados discursos. Um exemplo ciado seria a qualificação que o indivíduo deve possuir antes de fazer seu discurso, é necessário todo um conjunto de signos que possa acompanhar este discurso.  Assim para o controle funcionar é necessário uma “Sociedade do Discurso” , cuja função é conservar ou produzir discursos e distribuí-los somente segundo regras estritas e definidas.

Mas nesta Ordem do Discurso, há maneiras de resistir ao controle, como por exemplo, dando acesso  a todo e qualquer tipo de informação, como no caso da educação por exemplo. Na educação, na leitura, na busca do conhecimento há maneiras de difundir um conhecimento e vários discursos de indivíduos.


Foucault então elabora uma proposta para fugir dos jogos de limitações e exclusões, através da inversão, descontinuidade, especificidade  e exterioridade. No qual o autor acredita que é preciso tratar o discurso como rarefeito, descontínuo, como um ato de violência às coisas e por isto deve-se evitar as significações prévias , usando o próprio discurso na sua aparição.

Tatiana Cioni Couto


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Fichamento e resumo-Ódio à democracia, Jacques Rancière.


RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. Tradução Maria Echalar.São Paulo:Boitempo, 2014

INTRODUÇÃO
• Democracia: reino dos desejos ilimitados dos indivíduos da sociedade de massa moderna.p.8
• Leis e instituições da democracia formal:são as aparências por trás das quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da classe burguesa.p.9
• Democracia real:democracia em que a liberdade e a igualdade não seriam mais representadas nas instituições da lei e do Estado, mas seriam encarnadas nas próprias formas da vida material e da experiência sensível (diálogo com Maffesoli).p.9
• Novo sentimento antidemocrático: traz uma versão mais perturbadora da fórmula.O governo democrático é mau quando se deixa corromper pela sociedade democrática que quer que todos sejam iguais e que todas as diferenças sejam respeitadas.p.10
• Ódio à democracia: pode ser resumido então em uma tese simples: só existe uma democracia boa, a que reprime a catástrofe da civilização democrática.p.11

DA DEMOCRACIA VITORIOSA À DEMOCRACIA CRIMINOSA

Rancière busca desconstruir o lugar da democracia como a utopia da realização da liberdade e da vontade coletiva.Em contrário, o autor francês compreende que leis e instituições da democracia formal "são as aparências por trás das quais e os instrumentos com os quais se exerce o poder da classe burguesa” (2014, p.9).A democracia real seria então uma forma de controle e dominação,se advinda do Estado,e só poderia ser identificada ,não pela forma da lei, mas nas formas da vida sensível, no que se compreende uma aproximação com a ideia da transfiguração do político de Michel Maffesoli.Como conceito central, Rancière define que o ódio à democracia se revela na ideia de que "só existe uma democracia boa, a que reprime a catástrofe da civilização democrática” (idem,ibidem.p.11)
Há, de fato, uma transformação do ideário democrático moderno, que Rancière compreende como totalitário, onde os indivíduos isolados têm prevalência às crenças coletivas, para a crise do governo democrático e das instituições que garantem que a presente democracia persista.O autor não compreende no entanto que houve uma total revolução no cerne do Estado democrático, mas que, por definição este era formada de direitos humanos ilusórios e de um Estado de exceção como condição fundamental.Nesse viés, as liberdades são substituídas pela burguesia pela única e possível liberdade do comércio.Ora,se as práticas sociais se transformam, no tempo contemporâneo, abarcando a crise de representação política sobre a qual falaram,a seu modo, Sodré, Paiva e Maffesoli, compreende-se que a escola, como formadora e reprodutora dos valores da sociedade dominante, também fracassa.
• Democracia: é a desordem das paixões ávidas de satisfação.p.14
Como forma de vida,política e social,é o reino do excesso.p.17
• Estado:tem o poder de controlar a desordem democrática.p.14
• Bom governo democrático: aquele capaz de controlar um mal que se chama simplesmente vida democrática.p.16
• Crise do governo democrático:o que provoca a crise do governo democrático é a intensidade da vida democrática.16
• Boa democracia: forma de governo e de vida social capaz de controlar o duplo excesso de atividade coletiva ou de retratação individual inerente à vida democrática.p.17
• Democracia moderna: significa a destruição do limite político pela lei de eliminação própria da sociedade moderna.p.19
• Judeus e democracia:estão em oposição radical.Essa tese marca a reviravolta daquilo que, na época da guerra dos seis dias ou do Sinai,ainda estruturava a percepção dominante da democracia.p.21
• Contrário da democracia:totalitarismo:
• Estados totalitários:
1. aqueles que, em nome da força da coletividade, negavam ao mesmo tempo os direitos dos indivíduos e as formas constitucionais da expressão coletiva, eleições livres,liberdade de expressão e associação.p.21
2. Suprimia a dualidade do Estado e da sociedade,estendendo sua esfera de exercício à totalidade da vida de uma coletividade.p.21
• Principio da chamada democracia: torna-se o princípio abrangente da modernidade tomada como uma totalidade histórica e mundial,a qual se opõe apenas o nome judeu como princípio da tradição humana preservada.p.22
• Terror revolucionário: necessidade inerente à própria essência da revolução democrática.p.24
• Democracia parlamentar e liberal:fundamentada na restrição do Estado e na defesa das liberdades individuais e democracia racial e igualitária,que sacrifica os direitos dos indivíduos à religião do coletivo e à fúria cega das multidões.p.24
• Revolução:consequência do pensamento das luzes e de seu primeiro,a doutrina protestante, que eleva o julgamento dos indivíduos isolados em vez das estruturas e das crenças coletivas.p.25
• Direitos humanos (Hannah Harendt): uma ilusão,porque são os direitos do homem nu,desprovido de direitos.p.27 • Estado de exceção (Agamben):conteúdo real da nossa democracia.p.27
• Direitos do homem: direitos dos indivíduos egoístas da sociedade burguesa.p.28
• Generalização das relações mercantis: realização da exigência febril de igualdade que atormenta os indivíduos democráticos e arruína a busca do bem comum encarnada no Estado.p.28
• Democracia providencial:
1. Relações contratuais entre indivíduos iguais.p.28
2. Banalização das praticas profissionais.p.29
• Profissões que instituíam uma forma aos valores coletivos:são afetadas pelo esgotamento da transcendência coletiva.p.29
• Burguesia:substituiu as numerosas liberdades,conquistadas duramente,por uma única liberdade sem escrúpulos, a do comércio.p.30
• Igualdade dos direitos humanos:traduz a igualdade da relação de exploração que é o ideal consumado dos sonhos do homem democrático.p.31
• Discussão sobre a escola: fracasso da instituição escolar em dar chances iguais às crianças oriundas das classes mais modestas.p.36
• Transmissão escolar do saber: evidenciação das desigualdades sociais (tese sociológica).p.37
Tese republicana: aproximar a escola da sociedade era torna-la mais homogênea com a desigualdade social.p.37
• Escola:trabalhava pela igualdade na estrita medida em que,abrigada pelos muros que a separavam da sociedade,podia se dedicar à tarefa que lhe era própria:distribuir igualmente a todos,sem considerar origem ou destinação social,o universal dos saberes.p.37
• Discurso intelectual dominante:une-se ao pensamento das elites censitárias e cultas do sec. XIX:a individualidade é uma coisa boa para as elites,torna-se um desastre para a civilização se a ela todos tem acesso.p.42
• República:não é originalmente o nome do governo da lei, do povo ou de seus representantes. A República é,desde Platão,o nome do governo que garante a reprodução do rebanho humano,protegendo-o contra o inchaço de seus apetites por bens individuais ou poder coletivo.p.44
• Aflição dos indivíduos democráticos: é a dos homens que perderam a medida pela qual um pode se conciliar com o múltiplo e uns podem se unir com todos.p.45

A POLÍTICA OU O PASTOR PERDIDO

Para o exercício da democracia, torna-se necessária a figura dos representantes da população que ocuparão seus lugares privilegiados na medida em que a democracia garantir a ordem da sociedade e do governo. A governabilidade,que Maquiavel definiria como o virtu e as condições para exercício do poder, Rancière define como a ausência de qualquer título para que seja exercido o poder, segundo a ordem natural das coisas (RANCIÈRE,2014).Deste modo,a igualdade é compreendida de forma muito mais natural pelo superior, ou governante,do que pelo governado.a democracia se baseia assim em um regime de desigualdade pautado pela ausência de motivos ou títulos para a escolha de quem governará. O fundamento do poder está assim definido "como uma total ausência de fundamento." (RANCIÈRE,2014,p.66)

• Crime democrático: crime político,isto é,simplesmente a organização de uma comunidade humana sem vinculo com o Deus pai.p.47
• Lei democrática (Platão): apenas o bel prazer do povo,a expressão da liberdade de indivíduos que tem como única lei as variações de seu humor e de seu prazer, indiferentes a qualquer ordem coletiva.p.50
• Inversão entre governante e governado: a democracia garante que essa relação seja homogênea com as outras.p.53
Garante a continuidade entre a ordem da sociedade e do governo,porque garante sobretudo a continuidade entre a ordem da convenção humana e a da natureza.p.53
Arkhé: significa em grego tanto começo quanto comando.p.53
• Democracia:quer dizer em primeiro lugar,um governo anárquico,fundamentado em nada mais do que na ausência de qualquer título para governar.p.57
• Representação do povo soberano por seus eleitos:simbiose entre a elite dos eleitos do povo e a elite daqueles que nossas escolas formaram no conhecimento do funcionamento das sociedades.p.57
• Governo justo:só existe com o que contradiz a identificação do exercício do governo com o exercício de um poder desejado e conquistado.p.59
• Título (dos governantes): produz um efeito retroativo sobre o outros,uma dúvida sobre o tipo de legitimidade que eles estabelecem.p.60
• Ordem natural das coisas:os homens são governados por aqueles que possuem os títulos para governá-los.p.62
• Poder dos melhores: só pode se legitimar pelo poder dos iguais.p.64
• Igualdade:não é uma ficção: todo superior a sente como a mais banal das realidades.p.64
• Sociedade não igualitária: só pode funcionar graças a uma multitude de relações igualitárias.p.65
• Política:para que haja política é preciso que haja um título de exceção, que se acrescente aqueles pelos quais as sociedades [...] são normalmente regidas.p.65
Fundamento do poder de governar em sua ausência de fundamento.p.66

DEMOCRACIA, REPÚBLICA, REPRESENTAÇÃO

Mergulhando no conceito de República, Rancière vai reafirmar em seu discurso a ideia de que não há objetivo igualitário na sociedade democrática. Ao contrario,esta é "pintura fantasiosa destinada a sustentar tal princípio do bom governo.as sociedades, tanto no presente quanto no passado, são organizadas pelo jogo das oligarquias (RANCIÈRE,2014.p.68) Assim sendo, vai além do que Sodré, Paiva e Maffesoli definem como crise da representação.Para Rancière, a representação nunca foi uma forma democrática,mas em antítese, seria uma forma essencialmente oligárquica que encerraria em seu íntimo,tal qual o leviatã hobbesiano, o consentimento do povo para que um poder superior o governe.Nesse mesmo viés o autor francês aponta para mais um elemento do "imaginário democrático", o sufrágio universal", como um bastião do poder conquistado pela oligarquia dos escolhidos,cujo modo configura e perpetua as práticas sociais que garantem sua permanência no poder e o consentimento daqueles que são taxados como cidadãos.Logo,a cidadania não é um direito natural inerente ao humano na república,mas uma condição limitada a todo sujeito "capaz de pagar o censo (RANCIÈRE,2014,p.76) e manter viva a república.Mas como perpetuar o ideário republicano?Rancière afirma que a república se mantém tal como está não só pelas leis mas pelos costumes republicanos, que,sugere-se, são formatados pela educação.De fato,o autor francês localiza a educação como espaço que "dota cada pessoa e cada classe da virtude própria a seu lugar e sua função” (RANCIÈRE,2014,p.83).Assim , ao adentrar na escola,cada aluno introjetará seu lugar no cenário social,definindo-se de antemão não só a quem caberá representá-los,mas também no consentimento prévio dessa representação.

• Escândalo democrático: consiste em revelar que não haverá jamais com o nome de política um princípio uno da comunidade que legitime a ação dos governantes a partir das leis inerentes ao agrupamento das comunidades humanas.p.67
• Sociedade democrática:pintura fantasiosa destinada a sustentar tal ou tal principio do bom governo.as sociedades, tanto no presente quanto no passado, são organizadas pelo jogo das oligarquias.p.68
• Representação:nunca foi um sistema inventado para amenizar o impacto do crescimento das populações.p.69
1. É uma forma oligárquica, uma representação das minorias que tem titulo para se ocupar dos negócios comuns.p.69
2. Expressão de um consentimento que um poder superior pede e que só é de fato consentimento na medida em que é unanime.p.70
3. É o exato oposto da democracia.p.70
• Sufrágio universal:não é em absoluto uma consequência natural da democracia.p.71
Forma mista,nascida da oligarquia, desviada pelo combate democrático e perpetuamente reconquistada pela oligarquia,que submete seus candidatos e às vezes suas decisões à escolha do corpo eleitoral.p.71
• Democracia: longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua felicidade privada, é o processo de luta contra essa privatização, processo de ampliação dessa esfera.p.72
• Ampliar a esfera pública: não significa ,como afirma o chamado discurso liberal, exigir a intervenção crescente do Estado na sociedade.Significa lutar contra a divisão do público e do privado que garante a dupla dominação da oligarquia no estado e na sociedade.p.72
• Povo soberano:o é somente na ação de seus representantes e de seus governantes.p.74
• Cidadãos ativos:capazes de pagar o censo.p.76
• Direitos humanos:direitos do cidadão,isto é,direitos dos que tem direitos.p.77
• Processo democrático: ação de sujeitos que, trabalhando no intervalo das identidades,reconfiguram as distribuições do privado e do público, do universal e do particular.p.80
Deve constantemente trazer de volta ao jogo o universal em uma forma polêmica.p.81
• Universal:continuamente privatizado, continuamente reduzido a uma divisão do poder entre nascimento, riqueza e competência que atua tanto no Estado quanto na sociedade.p.80
• República:termo ambíguo, perseguido pela tensão implicada pela vontade de incluir nas formas instituídas do político o excesso da política.p.82
1. Precisa não somente das leis mas dos costumes republicanos.a republica é um regime de homogeneidade entre as instituições do Estado e dos costumes da sociedade.p.82
2. Remonta a politeia platônica.[.] é o reino da igualdade geométrica,que coloca os que valem mais acima dos que valem menos.p.83
3. Trabalho de uma educação que harmonize ou rearmonize as leis e os costumes,o sistema das formas institucionais e a disposição do corpo social.p.84 • Educação: dota cada pessoa e cada classe da virtude própria a seu lugar e sua função.p.83
• Ensino republicano:separa claramente as duas funções da escola pública:transmitir ao povo o que lhe é útil e formar uma elite capaz de se elevar acima do utilitarismo a que estão fadados os homens do povo.p.86
• Crítica ao individualismo democrático: simplesmente o ódio à igualdade pelo qual uma intelligentsia dominante confirma que é a elite qualificada para dirigir o cego rebanho.p.88
• Distribuição dos saberes tem eficácia social somente na medida em que é também uma redistribuição das posições.p.88
• Governo da ciência: condenado a ser o governo das elites naturais,no qual o poder social das competências científicas se combina com os poderes sociais do nascimento e da riqueza,arriscando-se a suscitar mais uma vez a desordem democrática que desloca a fronteira do político.p.89

AS RAZÕES DE UM ÓDIO

Tentando compreender as razão do ódio à democracia,Rancière define todo o Estado como sendo, por princípio,oligárquico (2014).Sendo assim,a democracia nada mais é do que um lugar onde há espaço para que as paixões de liberdade sejam alimentadas. Para o funcionamento deste regime democrático, de viés liberalista,é necessário que exista uma cultura do consenso, fortalecida pela inter-relação entre os especialistas em soluções e os representantes qualificados (2014).Rancière chama esta relação também de aliança oligárquica da riqueza e da ciência, onde se "exige todo o poder e não admite que o povo ainda possa se dividir e se multiplicar".(2014,p.100) e reconhece que não há neste caso enfraquecimento dos estados,mas uma nova partilha dos poderes que "tende bem mais para o fortalecimento dos Estados do que para seu enfraquecimento” (RANCIÈRE,2014,p.105).È com este argumento que Rancière vai localizar o ódio à democracia,vista como um operador ideológico, por negar as formas de poder e controle que fazem do sistema democrático um sistema de dominação de muitos por poucos escolhidos, os tais representantes.A solução, para o autor,estaria na ação que tensionaria o poder constituído do regime republicano e ,por assim dizer,representacional.Esta ação,"Não se fundamenta em nenhuma natureza das coisas e não é garantida por nenhuma forma institucional.Não é trazida por nenhuma necessidade histórica e não traz nenhuma.Esta entregue apenas à constância de seus próprios atos.p.122.

• Estado:todo estado é oligárquico.p.92
• Oligarquia:dá a democracia mais ou menos espaço,é mais ou menos invadida por sua atividade.p.92
• Estados de direito oligárquicos:em que o poder da oligarquia é limitado pelo duplo reconhecimento da soberania popular e das liberdades individuais.p.94
• Liberdades dos indivíduos: são respeitadas a custa de notáveis exceções em tudo que diga respeito à proteção das fronteiras e à segurança do território.p.94
• Democracia:oligarquia que dá a democracia espaço suficiente para alimentar sua paixão.p.95
• Cultura do consenso: habitua a objetivar sem paixão os problemas de curto e longo prazo que as sociedades encontram,a pedir soluções aos especialistas e discutí-las com os representantes qualificados dos grandes interesses sociais.p.96
• Soberania popular: maneira de discutir o excesso democrático,transformar em arkhé o principio anárquico da singularidade política, o governo dos que não tem título para governar.p.97
• Autoridade dos nossos governantes:legitimada,de um lado, pela virtude da escolha popular e,de outro,pela capacidade dos governantes de escolher as soluções certas para os problemas da sociedade.p.100
• Aliança oligárquica da riqueza e da ciência:exige todo o poder e não admite que o povo ainda possa se dividir e se multiplicar.p.100
• Populismo:formas de secessão em relação ao consenso dominante.p.101
• Grande aspiração da oligarquia:governar sem povo,governar sem política.p.102
• Liberalismo:não precisa de constituição [...].Basta que ele tenha liberdade para operar.p.104
• Nova partilha dos poderes entre capitalismo internacional e Estados Nacionais: tende bem mais para o fortalecimento dos Estados do que para seu enfraquecimento.p.105
• Consumidor democrático: se opõe ao reino das oligarquias financeiras e estatais.p.112
• Democracia:esquecida toda a política, a palavra democracia torna-se então o eufemismo que designa um sistema de dominação .p.112
• Discurso antidemocrático dos intelectuais de hoje: arremata ao esquecimento consensual da democracia pelo qual trabalham a oligarquia estatal e a econômica.p.116
• Novo ódio à democracia:faz da palavra democracia um operador ideológico que despolitiza as questões da vida publica para transforma-la em fenômenos de sociedade,ao mesmo tempo em que nega as formas de dominação que estruturam a sociedade.p.117
• Ódio:visa a intolerável condição igualitária da própria desigualdade.p.119
• Poder estatal e poder da riqueza: conjugam-se em uma única e mesma gestão especializada dos fluxos de dinheiro e populações.eles se empenham juntos para reduzir os espaços da política.p.120
• Democracia de fato: é a ação que arranca continuamente dos governos oligárquicos o monopólio da vida e da riqueza a onipotência sobre a vida.ela é potencia que,hoje mais do que nunca, deve lutar contra a confusão desses poderes em uma única e mesma lei da dominação.p121
Não se fundamenta em nenhuma natureza das coisas e não é garantida por nenhuma forma institucional.não é trazida por nenhuma necessidade historia e não traz nenhuma.esta entregue apenas à constância de seus próprios atos.p.122
Sobre o autor:
O filósofo Jacques Rancière, 55, hoje um dos principais nomes do pensamento francês, iniciou sua vida intelectual —e política— como marxista althusseriano e militante de extrema-esquerda. O movimento de maio de 1968 na França fez com que ele começasse a se distanciar de Marx e especialmente de Louis Althusser, mas não o levou a abandonar o projeto de pensar uma política radical.
fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/entrevista_filosofia_jacques_ranciere.htm